sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Chastain e Bigelow fazem A HORA MAIS ESCURA brilhar!

Tela escura e silêncio. Repentinamente somos surpreendidos por diversas gravações de voz. Não é preciso muito tempo para que quem viveu o momento o reconheça: 11/09, o ataque terrorista mais ambicioso da história! Saltamos dois anos a frente e a primeira imagem que vemos nos coloca em uma sala de "interrogatórios", que logo se transforma em sala de tortura. Nossa protagonista aparece, com o rosto encoberto e tenta lidar com as imagens a que assiste. Com essa bela metáfora sobre o que justifica nossas ações e até que ponto estamos confortáveis em assumir tais ações, Kathryn Bigelow introduz seu novo filme, A HORA MAIS ESCURA (Zero Dark Thirty, 2012), filme que ela mesma definiu como a história da procura da uma agulha muito afiada em um palheiro gigantesco.


Repetindo a parceria (de GUERRA AO TERROR) com o roteirista Mark Boal, Bigelow conta como Maya (Jessica Chastain) dedicou anos da sua vida na busca do líder terrorista Osama Bin Laden. Era de se esperar que um filme como este exagerasse no patriotismo, mas Boal soube criar uma trama quase que documental. Somos levados, num passo a passo intrigante e inquietante, à descoberta do paradeiro do chefe da Al Qaeda enquanto acompanhamos o oscilar de uma agente da CIA entre a frieza e a desolação.

O roteiro perpassa diversos momentos que acompanhamos nos noticiários, desde atentados em Londres e em uma base dos EUA até pronunciamentos de Obama condenando o uso de tortura como método para obtenção de informação. Bigelow aproveita o excelente elenco (James Gandolfini, Kyle Chandler e Mark Strong, entre outros) para mostrar o quanto o ataque mexeu com os egos da inteligência norte-americana. Em certo momento, quando questionado por um de seus subalternos quanto à capacidade intelectual de Maya, o chefe da CIA retruca: na CIA, todos somos inteligentes!

Aproveitando a atuação equilibrada de Chastain, Bigelow mostra didaticamente o que move essa mulher, sem no entanto recorrer a lições maniqueístas. Maya quer prender o ser que pode, a qualquer momento, reaparecer e abalar o seu mundo.

Tecnicamente, o filme segue o já bem sucedido GUERRA AO TERROR. A fotografia, belíssima, ressalta a desolação do mundo de Maya e o viés encorajador que seu trabalho tem em sua vida. As situações por que passa a mostram cada vez mais preparada para lidar com os problemas, falando um palavrão para ganhar a atenção do chefe, rabiscando números em um vidro ao cobrar agilidade de outro ou mesmo quando tira o capuz, aquele do começo do filme, para encarar o interrogado frente a frente. Bigelow entrega a Chastain cenas singulares em que esta, com um belo olhar ou com a postura envergada pelo peso da responsabilidade de reconhecer se o alvo foi abatido, nos lembra o porque de toda aquela ação. Enquadramentos inteligentes tiram dos diálogos a necessidade de explicar qualquer coisa. Uma progressão de humores e sentimentos.

A bela fotografia ilustra o mundo de Maya

Destaque para as brilhantes cenas do atentado em um ônibus em Londres e do tiro fatal em Bin Laden. O soldado fica incrédulo - atitude que seria repetida por todos que ouviriam a notícia ao redor do mundo - diante do que acabara de fazer. Ele sabe que entrou para a história. Ele sente que, finalmente, uma história que começara em 2001 terminava.

Maya entra em um avião e encosta em um fundo vermelho e branco, que não por acaso lembra a bandeira dos EUA. Uma lágrima escorre por seu rosto e com ela, vai embora o peso de seu trabalho. Seu olhar diz tudo: a agulha foi encontrada.

Ponto final.

Enquadramentos cheios de significado

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

TV: Pé na Cova, ou a A Família Addams do Irajá

O escritor, diretor, ex-apresentador do Video Show, produtor e ator Miguel Falabella já cansou de falar que ele considera a comédia muito mais comunicadora que o drama, e pra ele já ficou claro que isso é verdadeiro. Segundo ele se trata de um seriado "cruel, ácido, crítico e apocalíptico", e que também é seu trabalho mais pessoal (ele cresceu no Irajá, onde se passa o seriado). 
Mas aparentemente o projeto surgiu por encomenda. Uma vez que o elenco de A Grande Família, que é um campeão de audência no canal, anda querendo o fim do seriado devido a brigas e o óbvio desgaste mesmo após a passagem de tempo (leia-se: reforma), a rede Globo precisa do substituto que já não tem mais desde o fim de Toma Lá Da Cá do próprio Falabella. Portanto não me parece uma coincidência que Pé na Cova seja sobre uma família suburbana e seus vizinhos, e que tenha uma estrutura parecida (se lá há o Beiçola que vende pastéis, aqui há as gêmeas que vendem cachorro-quente), mas há algo mais a se oferecer ao público.
Pé na Cova acompanha a família de Gedivan Pereira, vulgo Ruço (papel de Falabella), sua alcoólatra ex-esposa Darlene (uma nonsense Marília Pêra), a filha que trabalha de stripper virtual Odete Roitman (a ex-subestimada Luma Costa), o iletrado filho candidato a vereador Alessanderson (Daniel Torres, que estava em Toma Lá Da Cá), Isaura, a babá negra de Ruço que mal se move e fala ("papel" de Niana Machado), e a sonhadora namorada de 19 anos que Ruço leva pra morar com eles Abigail (papel de Lorena Comparato, na vida real irmã de Bianca que viveu Betânia em Avenida Brasil), enquanto administram na parte de baixo da casa a funerária F.U.I. (Funerária Unidos do Irajá). Além da morte, há bizarros vizinhos que os cercam: a mecânica Tamanco (ousada estréia da cantora Mart'nália), Marcão que se traveste de Markassa durante a noite (o ótimo Maurício Xavier), o faz-tudo Juscelino (que seria de Ney Latorraca, que adoeceu, mas finalmente deu a chance pro veterano Alexandre Zachia se destacar) e sua desmiolada irmã carpideira Luz Divina (a veterana atriz de teatro Eliana Rocha), as gêmeas de raças diferentes donas da barraca de cachorro-quente Soninja (a ex-Rouge Karin Hils) e Giussandra (Karina Marthin), o vigilante Floriano (o veterano Rubens de Araújo), e por fim a empregada da família Adenóide (papel da veteraníssima cantora e atriz de musicais Sabrina Korgut, dentre eles Avenida Q e Miss Saigon).
Gomes e o Primo It
Quando começou a divulgação, muitos assimilaram a trama com Six Feet Under - A Sete Palmos, conhecida série estadunidense sobre uma família dona de uma funerária, mas Pé Na Cova lembra mais a premiada série criada por Alan Ball pelo fato da Darlene ser a maquiadora dos mortos. Mas as semelhanças podem ir além se perceber que enquanto lá havia um filho gay tendo um relacionamento inter-racial, além de outras polêmicas, aqui Falabella também ousa ao colocar a namorada 30 anos mais jovem de Ruço vivendo sob o mesmo de sua ex-esposa, e principalmente pela filha que se tranca no quarto pra trabalhar como striper virtual e que começa a namorar a mecânica que representa todos os estereótipos lésbicos da sociedade.
o cinquentão e sua ninfeta
Sem dúvida o autor está fazendo comédia pelos elementos quase nonsense do texto, lembrando de clássicos como A Família Addams em personagens como Juscelino que é uma mistura de Tio Chico com o Primo It, mas também chama a obra de "a grande tragédia da educação nacional". Tal conceito fica claro em personagens como Darlene que diz que "saiu da crínica (sic)", e tem "diproma (sic)", e de cenas como a do segundo episódio A Nação Laica onde os personagens passam alguns minutos discutindo em vão o significado da palavra laico, concluindo que se trata de uma pessoa despudorada. 
"Sim, somos noivos! E daí?"
O autor acerta em cheio ao criar uma família que ao mesmo tempo que é preconceituosa, como o pai que não se orgulha pela filha bissexual que se exibe na internet por dinheiro, é tolerante, como a mãe que se orgulha de ter uma filha tão linda que deve se exibir pra ganhar em dólar, e assim vão aprendendo a conviver com tantas diferenças. Isso se explica no segundo episódio com participação de Laura Cardoso que não se constrange com a sobrinha-neta noiva de outra mulher, e da presença de um transexual que diz que "adoraria colocar silicone pra deixar de usar pneu", enquanto sua filha preconceituosa quer logo sair dali, e do episódio  Quero Morrer no Carnaval, que eles recebem o corpo de uma elegante transexual, mas decidem tanto por gana quanto por preconceito prepará-la de acordo com a certidão, ou seja, como um homem, e são surpreendidos pela mãe que quer que ele seja enterrado devidamente vestido como mulher.
Dirigido por Cininha de Paula, que disse se inspirar em filmes portugueses, cubanos e nos Irmãos Cohen para realizar uma comédia de "realismo doido", fortemente presente em cenas como a da empregada que chega atrasada porque foi tentar pegar alguma coisa nos escombros de um prédio que tinha acabado de cair, e conseguiu 1/2 kg de carne congelada (que deve ter caído de alguma geladeira), um vidro de xampu pela metade e um cortador de unha, enquanto a amiga conseguiu uma máquina de costura novinha que ficou protegida pelo corpo da dona, que ainda estava lá.
Marcão de dia, Markassa de noite
Um dos erros do seriado é o de, por enquanto, fazer a "moral da história" cair nas costas do patriarca Ruço, o protagonista que Falabella erroneamente se deu. Ok, ele é ótimo, mas as gags à la Caco Antíbes pobre soam ruídos numa trama que de tão absurda, é hilária. Ou seja, ele sabota a própria fórmula do sucesso duradouro de A Grande Família que deve substituir.
O seriado talvez ficasse mais engraçado e divertido se percebesse que os temas polêmicos que a sociedade tanto não quer ver no drama são justamente seu forte, uma vez que a estréia de 17 pontos na Grande São Paulo agradou a emissora e deixou claro que o público aceita tais temas no modo comédia. E quem sabe assim toda a crítica ficasse mais clara para a maioria do público? Fora isso, a absurda galeria de personagens do seriado pode ser vista (e apreciada talvez?) todas as quintas, infelizmente após o Big Brother Brasil....

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Direto da Telona: Meu Namorado É Um Zumbi, ou Quando Deixamos de Sentir

Ele ainda está morto, mas está esquentando
Quando começou a divulgação da adaptação do livro Sangue Quente de Isaac Marion, tudo apontava para uma versão zumbi de Crepúsculo, mas eis que o primeiro trailer revelava um filme bem humorado, que então se aproximaria muito mais de elementos do ácido Shaun of The Dead - Todo Mundo Quase Morto, que mostra o apocalipse zumbi como uma consequência de uma sociedade paralisada, e do pouco visto Fido - O Mascote, que acompanha a amizade de um garoto e seu zumbi de estimação. E este é um dos trunfos deste Meu Namorado é um Zumbi.
Sob a narrativa e o ponto de vista de um jovem zumbi que só lembra que seu nome começa com R, descobrimos que o mundo está tomado pelos mortos-vivos, e que eles evoluem para temidos esqueletos.   Mas mesmo soltando piadas, R precisa se alimentar como qualquer morto-vivo, e num destes ataques ele se apaixona pela namorada de um de suas vítimas, e começa a protegê-la. Ao se alimentar do cérebro do namorado da moça, além de ajudá-lo a entendê-la e conquistá-la, o ajudará a se sentir vivo novamente, causando uma reação em cadeia entre os zumbis.
Era só zoação
Os zumbis do filme repetem ações de quando eram vivos (coisa que o próprio George Romero já experimentou), e tem uma agilidade maior que o usual no gênero. Além da maquiagem simplesmente trash da grande maioria deles, o figurino deles não é aquele deteriorado visto em The Walking Dead. Mas tudo isso a favor de um desenvolvimento a favor dos zumbis, porque apesar do título em português sugerir que a trama se desenrola em torno da moça viva, são os mortos quem passarão por uma transformação.
Eu, você e os zumbis...
É preciso destacar que o filme não seria divertido se Nicholas Hoult (Um Grande Garoto, X-Men: Primeira Classe, e os vindouros Jack - O Matador de Gigantes e Mad Max - Fury Road) não tivesse entendido que R é um zumbi, mas com muita humanidade. O personagem coleciona coisas, e escuta discos de vinil, ou seja, ele já estava a um passo da humanidade antes de se apaixonar. E a química dele com a linda e subestimada Teresa Palmer (Aprendiz de Feiticeiro, Eu Sou Número Quatro), que de tão parecida com Kristen Stewart só ajuda a brincar com o fenômeno Crepúsculo, é qualquer coisa nada melosa. Ah! O filme também tem John Malkovich no elenco, mas apesar de ele não estar de todo mal, é evidente que tinha algumas contas atrasadas.
"Pareço assustador, mas quero que me ame"
Mas o grande trunfo do filme fica subentendido entre cenas de ação e comédia bem feitas pelo promissor diretor Jonathan Levine, que despontou com 50%; Pelas ótimas aparições de Rob Corddry (da série Childrens Hospital) como o melhor amigo de R; e a vocação em brincar com elementos do cinema B: a mensagem de que talvez nos tornamos intolerantes, sem tempo (não à toa grande parte do filme se passe num aeroporto tomado por zumbis sem rumo) e insensíveis o suficiente pra não nos amarmos, nos respeitarmos e no mínimo nos olharmos e perguntar "O que é você?" ("What r u, R?" no original).

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Direto da Telona: Os Miseráveis, ou Les Mis


A cena de abertura dessa adaptação cinematográfica do musical francês que ficou conhecido por sua versão em inglês, que por fim adapta o clássico livro de Victor Hugo mostra um porto feito em computação gráfica e se aproxima de prisioneiros acorrentados puxando um navio um enorme navio, e esse é um dos exemplos da contradição de um filme que pretende ser realista. Mesmo acusado de não entender da linguagem do cinema, Tom Hooper venceu o Oscar de direção do ano passado por O Discurso do Rei, e não pode ser acusado de não saber "vender seu peixe". Saído da tv britânica, ele despontou como um querido de Hollywood pelo bom desempenho da minissérie  John Adams da HBO nas premiações, e aproveitou-se pra continuar a mexer com momentos históricos. Mas fica claro que seu ponto positivo é definitivamente dirigir atores.

A conhecida história fala do santo e ladrão de pão Jean Valjean, que condenado foge e se torna o prefeito de Paris, mas é perseguido pelo intolerante Inspetor Javert. No seu entorno estão os miseráveis do título (ele incluído): uma jovem forçada a se prostituir e sua filha, estudantes revoltosos, golpistas, sonhadores...
Fantine é a única coitada que usa rosa. De boas intenções...
Sem o menor pudor, o diretor fez o dissonante elenco deste Os Miseráveis cantarem ao vivo e se entregarem o máximo possível (leia-se: por vezes exageradamente) a seus personagens a fim de uma estética realista, mas o próprio diretor escolhe ângulos pouco convencionais ao estilo minissérie bíblica da Record que não aproveitam os incríveis cenários e figurinos, e algumas narrativas que nada ajudam. Quando os pobres cantam "At The End of The Day", o diretor tenta ilustrar suas palavras, como se os espectadores não entendessem, e isso vai se repetindo até mesmo em lágrimas. Quando Russell Crowe canta "Stars"e a canção-spoiler no final, a inquieta câmera escolhe um estranho ângulo que mostre o céu estrelado (e digital) que o personagem menciona. Como se trata de uma adaptação, o diretor deveria ter percebido que certas passagens que funcionavam no teatro, não teriam o mesmo peso nas telas. Por mais triste que possa parecer, a Fantine de Anne Hathaway vai ao fundo do poço muito rapidamente, fazendo o ótimo trabalho da atriz parecer forçado, pois não há tempo pro público sequer acreditar nesta mãe desesperada.
Quase um "Píramo e Tisbe" no meio da revolução francesa

É um filme de ator? Assim como o irregular O Discurso do Rei, sem dúvida. Hugh Jackman está insubstituível como Jean Valjean, e merecia uma indicação ao Oscar. E talvez Russell Crowe também tenha sido a melhor escolha pro sádico e perturbado Javert, trazendo todo o conflito e fragilidade do personagem em seu jeito desengonçado e forçado de cantar. Mas não sei se diria o mesmo do resto do elenco. Anne Hathaway nunca interpretou uma mãe antes, e além do roteiro não colaborar com o desenvolvimento de sua Fantine, sua atuação está apoiada na mudança física e repentina da personagem, e na muito bem cantada, mas estranhamente filmada "I Dreamed a Dream". Saída da última versão teatral, Samantha Barks que canta muito bem a subestimada Éponine tem cabelos maravilhosos pra uma miserável, e um estilo latino que difere demais dos à vontade (até demais) Sacha Baron Cohen e Helena Bonhan Carter que fazem seus pais golpistas. E o que dizer da linda Amanda Seyfried, vazia na superestimada personagem Cosette (é como se o diretor tivesse assistido Mamma Mia e se apaixonado por ela, como o resto do planeta, mas esquecido de que ela é demais pro papel).
Crowe e Jackman; dois lados da sociedade (mas sempre cantando)
Num plano geral, esse Os Miseráveis é bastante interessante, e soube se vender bem. Honra as cores do musical do qual vem, mas perde por não ter personalidade própria (como Chicago o teve), como por exemplo optar por não cantar algumas partes que ficaram claramente estranhas filmadas (lembre-se que o filme tem somente uma canção coreografada), e deixar uma longa cena de batalha sem canções (que pro público serve de respiro pra tanta cantoria) somente pro ato final.

"Não, não estamos num filme do Tim Burton..."
A enorme vontade de fazer o público se emocionar, e cenas que fariam Chico Xavier ficar orgulhoso impede que o objetivo principal de Victor Hugo se concretize: fazer o público refletir sobre essa miséria, onde a maioria da população vive como selvagens se atacando e se ofendendo por qualquer coisa. Sim, o musical no teatro consegue causar alguma reflexão, então o filme também conseguiria, se não ficasse tão preso em ser apenas comercial.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

TV: Revolution, ou Sob a Sombra Eterna de "Lost"

Há algumas séries de tv que fazem um sucesso popular, mas têm tantos altos e baixos como recentemente Smallville e Supernatural que podem terminar no fundo do poço da atenção do público e crítica, e há aquelas que nasceram pra ficar na história da televisão como Star Trek, Twilight Zone, Dallas, Twin Peaks e mais recentemente Lost. Esta última é conhecida pelos seus altos e médios, apesar da oposição chamar de baixos, e seu final baixo, uma vez frustrante do ponto de vista da curiosidade do público. Alguns podem dizer que a série acabou mal pela sua ambição de ser algo mais, mas de fato é inegável que ela foi algo mais por sua produção, seu elenco, sua narrativa, sua trilha sonora, sua edição, etc. J.J. Abrams, um dos criadores, diretores e produtores não é o novo rei da ficção científica, como dito neste post à toa. E é inegável a influência da série na televisão americana, com muitas séries tentando replicar seu sucesso com produção semelhantes. 
"Me mandaram usar um desses por causa do sucesso de Jogos Vorazes"
O triste é verificar que muitas das séries que tentam imitar Lost sejam dos próprios envolvidos na produção desta. FlashForward tem alguns dos mesmos produtores, e foi considerada por muitos um bom substituto pelo bom enredo (mas mal desenvolvido) da população mundial tendo uma rápida visão de como estariam num futuro próximo. Heroes de um canal rival falava de pessoas com super poderes, supostamente interligadas por uma conspiração misteriosa que acompanhava a trama, assim como em Lost. Ambas foram canceladas pela falta de interesse do público. Podemos chamar de sobrevivente Fringe, que apesar de um começo muito semelhante a Lost em relação ao mistério e sua edição, ganhou uma identidade quase própria (mais próxima de Arquivo X) ao longo dos episódios, e chega em sua derradeira temporada no auge.
"Desculpe pelo seu Totó"
Só o tempo dirá em qual categoria a atual Revolution, exibida no Brasil pelo canal Cinemax, está. Eu diria que está no primeiro time, o das cópias baratas que ficarão cada vez mais desinteressantes ao público. Com uma estréia de grande audiência, a série, que ainda não finalizou sua temporada de 22 episódios encomendados pela emissora, vem perdendo mais telespectadores a cada semana apesar de nomes como o de J.J.Abrams, Jon Favreau (diretor dos primeiros dois Homem de Ferro e Cowboys & Aliens) e Eric Kripke (criador da popular, mas já um tanto decadente Supernatural) envolvidos com roteiro, produção e direção.
 Apesar do ótimo plot do fim da eletricidade e como a humanidade reage a isso, a série comete dezenas, senão centenas de erros principalmente em sua concepção, tentando repará-los ou amenizá-los em sua condução. A trama começa com um homem preparando a esposa, os dois pequenos filhos, e tentando avisar o irmão sobre o apagão que no meio da ligação ocorre em todo o mundo causando tragédias e mais tragédias (como quedas de aviões, explosões, pânico em geral). Apesar desse começo que rende boas (e rápidas) sequências gráficas, a série comete o primeiro grande erro ao pular repentinamente para 15 anos após o evento, onde somos apresentados a protagonista Charlie, filha do homem que sabia do fim da eletricidade. Agora ela é uma jovem (nem vou me dar ao trabalho de chamar uma moça de 20 anos de adolescente, apesar da série dar a entender isso), que precisa cuidar do irmão (cover bombado do Justin Bieber) que sofre constantes ataques de asma, e que deseja conhecer o que há fora da pequena vila onde vivem, e pra isso implica com o pai, que tem uma nova namorada. Entendemos a desastrosa opção de pular 15 anos de história quando vemos o primeiro flashback (talvez a principal característica de Lost), e eles aqui gradualmente também terão função de responder as perguntas que o público fará, e não apenas causar emoção. O que move a trama aqui é Charlie partindo para o resgate de seu irmão asmático sequestrado pela milícia em troca de informações sobre como restaurar a energia, que supostamente seu pai teria, e da ajuda do seu misterioso tio cover de Chuck Norris vivido por Billy Burke (o pai da Bella Swan na Saga Crepúsculo).
"Eu sei que você vai desejar que eu morra no primeiro episódio,
mas eu sou o motivo da trama existir, tá?"
Mas como seria a sociedade sem energia elétrica? Sejamos honestos: seria um desastre! As pessoas têm preguiça de fazer comida em casa, de construir algo com seu suor (que não através do dinheiro), e de se relacionar saudavelmente sem querer nada em troca. A série acerta neste ponto, mas erra em dar num primeiro momento um enfoque geral desta situação, fazendo todos os cenários serem pós-apocalípticos, como se não houvesse mais enxadas no mundo pra capinar o mato, ou como se não houvessem mais braços saudáveis pra construir um prédio. Tudo está caindo aos pedaços, e as pessoas brigam (e se matam) por um pedaço de pão nas ruas.
Com tamanha desolação (que remete ao sucesso The Walking Dead), é claro que os governos cairam, dando lugar às temidas milícias, que anseiam por se tornarem governos soberanos. Politicamente, Revolution copia descaradamente conceitos da excelente, porém subestimada, Jericho, quando divide os EUA em seis áreas e suas milícias. A trama inicia na República Monroe, chefiada por Sebastian Monroe (o barman descamisado de Bali em Comer, Rezar, Amar) que pretende restaurar a energia pra dominar o continente (SIC), e é na fundação dela que o mistério da série se divide, pois personagens importantes se envolvem nisso. A outra metade do mistério está em entender o que levou ao apagão, e alguma resposta pode ser tirada de um pingente pen-drive que misteriosamente liga equipamentos eletrônicos num raio indefinido, e que ao menos 3 personagens possuem, indicando uma conspiração (que conta com uma comunicação eletrônica pós-energia!!) na qual o pai da protagonista estaria envolvido.
"O público te acha mais legal que eu!"
"Claro! Você é legal, mas só está aqui por causa de Crepúsculo"
De todos os personagens, de longe, o mais carismático seja o super vilão Capitão Tom Neville da República Monroe vivido por Giancarlo Esposito (de Breaking Bad), que é um dos poucos sem flashbacks nos primeiros episódios. Mesmo assim ele acaba sendo o mais humano e sensato de todos. E quando você começa a gostar de outro personagem, já que seu flashback o torna menos forçado, o roteiro faz o favor de matá-lo pra "tentar" humanizar outro.
Essa mistura de Lost, Jericho e The Walking Dead teve um bom plot pra ser uma ótima série, mas deve acabar no rol das cópias que serão canceladas muito em breve. Em tempo: com cenário parecido com o da série, o jogo The Last of Us, que será lançado exclusivamente pra PS3 em maio parece bem mais interessante!

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Não se deixar emocionar pode ser o ponto cego da vida


Filmes como UM SONHO POSSÍVEL (The Blind Side, 2009) são muitas vezes subvalorizados. Entretanto, roteiros como o desse belo filme atingem um outro aspecto cinematográfico: a emoção.


A decoradora e ex-cheerleader Leigh Anne Tuohy (Sandra Bullock), já na abertura, explica o título original do longa, derivado de um termo do futebol americano: o atacante esquerdo do time deve proteger o lado cego do quarteback (armador das jogadas do time), o blind side. Esse termo servirá de premissa e reverberará por toda a história, metáfora da trama inspirada na história real do então problemático adolescente Michael Oher (Quinton Aaron, cativante).

Sua qualidades (altura e força) extremadas tornam a vida do jovem em uma escola para ricos possível, sob a aposta de que ele possa ser um bom jogador de futebol americano. Mas 'Big Mike', apelido de que não gosta, mal tem o que vestir e enfrenta inúmeras dificuldades para estudar. Ele é muito introspectivo, mas guarda em si um espírito protetor para com aqueles que o inspiram, sua família. Com poucos minutos de filme já sabemos para onde o mesmo aponta, quando Leigh Anne conhece Michael e resolve ajudar o jovem rapaz. Caricaturalmente engraçada e extremamente amorosa, a decoradora é o tipo de mulher que esconde sob a futilidade do dia a dia muita bondade. A família adota Mike e quer dar a ele as oportunidades que a vida lhe negou.

Mesmo sendo mais um daqueles típicos filmes americanos de superação, buscando vencer na vida, UM SONHO POSSÍVEL tem como principal mérito o esforço enorme que a direção e o roteiro de John Lee Hancok (adaptando o livro The Blind Side: Evolution of a Game), fazem para que o longa não seja piegas. Tem sim os seus clichês, mas ele são coerentes com o desenrolar dos acontecimentos. O casting foi perfeito, desde a boa química entre Sandra Bullock e Quinton Aron, passando pelos singelos novos "irmãos" de Big Mike e Kathy Bates como a tutora de estudos do rapaz, que agora tem um sonho e um futuro em ser jogador de futebol americano.



Por que lembrei desse filme e resolvi escrever sobre ele hoje? Ontem à noite, o Baltimore Ravens venceu o Super Bowl XLVII. Michael Oher é jogador do Baltimore Ravens. Ele venceu. A vida imita a arte ou vice-versa...
Sim, o cinema é maravilhoso, mas a vida é tão emocionante!

DIRETO DA TELONA: As Aventuras de Pi

A obra de Scliar e Martel: plágio?
Um garoto que sobrevive ao naufrágio do barco que o está levando para outra terra onde existe a promessa de uma nova vida, tem que dividir o bote salva-vidas com uma fera. Se você pensou em As Aventuras de Pi, errou!

Essa é a história do livro do autor brasileiro Moacyr Scliar, Max e os Felinos, que serviu de inspiração, segundo o autor Yann Martel, para o seu Life of Pi.

Claro que as coincidências das histórias levam a pensar em plágio, o que é realmente plausível.
As Aventuras de Pi tem
 11 indicações ao Oscar
Dois garotos que sobrevivem ao naufrágio de um navio - um deles saindo da Alemanha indo para o Brasil, o outro indo da Índia para o Canadá. Ambos os navios cheios de animais: um deles vindos de um circo, o outro de um zoológico. Os garotos precisam sobreviver num bote no meio do oceano dividindo esse bote com uma fera: um jaguar no caso do alemão, e um tigre-de-bengala no caso do indiano. São coincidências demais pra não suspeitar de plágio.

Apesar da polêmica, Scliar decidiu não processar o autor canadense pelo seu Life of Pi, que acabou virando um longa na mão do diretor premiado com o Oscar por Brokeback Mountain (2005) Ang Lee e o não tão elogiado Hulk (2003).

As Aventuras de Pi é um filme para ser apreciado, apesar da mancha de plágio que cerca a obra literária, pois Ang Lee explora os efeitos especiais de maneira a nos deixar boquiabertos com um show de cores e tons. Infelizmente não pude assistir esse filme na sala 4D, mas teria sido uma experiência interessante, visto que a cena do naufrágio e das mazelas que o garoto Piscine Patel, ou apenas Pi, tem que enfrentar em seu bote são de movimentos que variam do singelo ao intenso em poucos segundos.

O uso de cores no filme é intenso!

A história que começa na Índia, uma parte colorida e com uma seqüência divertida sobre o nome do garoto Pi que se perde na tradução para o português. Assiti ao filme no idioma original e insisto que se você não quer perder esse ótimo jogo de palavras, não assista ao filme dublado - no meu ponto de vista, uma praga que tem invadido os cinemas brasileiros!

Após anos lutando para manter o zoológico da familia aberto, o patriarca decidi mudar-se com todos para o Canadá, inclusive com a bicharada. Mas no meio da viagem, uma tempestade acaba por afundar o navio e Pi se vê sozinho dividindo o bote salva-vidas com um tigre-de-bengala, ou Richard Parker.

Tolerância para a sobrevivência
A partir desse momento, ambos passam os momentos se estudando, tudo em nome da sobrevivência.
É certo que toda a magia da história, que está sendo contada por um Piscine agora estabelecido em Montreal para um jornalista incrédulo ao que ouve, também o fará pensar se toda essa experiência não é uma invenção de uma mente perturbada por tanto tempo à deriva no oceano, porém aos que gostam de filmes que não trazem respostas prontas, As Aventuras de Pi é um prato cheio.

A beleza do filme, com imagens de tirar o fôlego, não se resume apenas ao visual, mas no conflito que todos trazemos sobre o que pode acontecer quando nossa sobrevivência está em risco.

É claro que a As Aventuras de Pi, indicado ao Oscar em 11 categorias incluindo Melhor Filme e Diretor, não é apenas um filme de visual estonteante, mas de expor nossas reações diante dos "Richard Parkers" de nossa existência, seja diante da ditadura como no livro de Scliar, ou de outras feras.

Filme: As Aventuras de Pi (EUA, 2012)
Direção: Ang Lee
Elenco: Suraj Sharma, Irrfan Khan, Adil Hussain, Rafe Spall, Gérard Depardieu
Gênero: Aventura, Drama

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Games para Smartphones: diversão no corre-corre do dia a dia!

Todo gamer sabe que, quanto mais responsabilidades ganhamos ao crescer, mais difícil fica dedicar tempo ao seu console em casa. Não é falta de vontade, mas sim pura falta de tempo. Os Smartphones - aparelhos que também são telefones, sua operação menos interessante, rs - acabaram por se tornar os novos consoles do trabalhador com dia corrido do nosso tempo. Eu, por exemplo, costumo jogar entre uma andança e outra pela cidade, seja em ônibus, metrô ou qualquer outro meio de transporte que seja necessário para cruzar a "pequena" SP.

A ideia desse post e citar alguns dos jogos que tem ocupado mais o meus momentos de translado. Jogo-os em um iPhone, mas eles também se encontram disponíveis em outras lojas virtuais. Joguem e se divirtam!



Game Dev Story é uma espécie de RPG em que você é o manda-chuva de uma empresa fabricante de games e seu objetivo é, obviamente, alcançar sucesso em suas empreitadas. Para tanto você deve analisar o mercado (há um periódico fictício que te mantem atualizado sobre os novos consoles e sobre o que as pessoas andam jogando), escolher o tipo de jogo, contratar e treinar a sua equipe e cuidar para que os mesmos tenham um ambiente bom de trabalho, para que possam criar o melhor jogo e sua empresa possa lucrar bastante. Muito divertido, o jogo te oferece uma imersão imensa levando em conta a pequena tela. Com gráficos modestos mas muito inspirados, é possível passar vários minutos jogando!



About Love, Hate & the other ones é um jogo de passatempo. A diversão consiste em levar um dos dois personagens (Love é o com a florzinha na testa) até o botão vermelho em cada tela. Bem fácil nas primeiras fases, o jogo passa a criar mais dificuldades e outros personagens verdes (os other ones) aparecem e podem ajudar ou atrapalhar e aí vem a explicação dos nomes dos personagens: Love atira um raio que os faz andar em sua direção; o raio de Hate faz com que os mesmos se afastem. Ocupa bem o tempo de 3 ou 4 estações de metrô!




Saudades dos jogos de plataforma? E de atirar em pequenos inimigos? E se isso tudo viesse em uma roupagem estilo 8 bits, com musiquinhas que grudam na mente? O jogo que você está procurando é Mutant Mudds! Avance fase a fase, encontrando novos tipos de inimigos e aprendendo a se desfazer dos mesmos, sempre pulando de plataforma em plataforma. Foi o estilo, nesse caso, que me cativou. A jogabilidade, tão complicada nesse tipo de jogo para a telinha do Smartphone, é surpreendentemente boa e viciante. As trocas de profundidade de tela são algo a parte, tornando a experiência muito mais interessante. Gaste a sua bateria jogando sem parar!!! ;-)





E por último, o jogo que mostra o quão longe George Lucas vai para conseguir mais alguns dólares com sua franquia. Brincadeiras a parte, quem gosta de Angry Birds precisa ter em seu dispositivo a versão Star Wars. Divertida pelo simples fato de trazer os pássaros nervosos na roupagem dos Rebeldes ou do famigerado Império, a aventura traz a trilha sonora clássica e ótimas decisões na hora de criar os poderes que cada ave possui. Divirta-se sacando o sabre de luz de Luke ou atirando com os lasers de Han Solo (ou simplesmente demolindo tudo como Chewie!). Usando tudo que todas as versões anteriores possuíam (em especial a influência da gravidade já introduzida no AB Space), ocupa o seu tempo e consome a sua bateria de forma rápida e eficaz. A versão HD do iPad ficou belíssima.

Direto da Telona: O LADO BOM DA VIDA


O LADO BOM DA VIDA (Silver Linings Playbook, 2012), produção de David O. Russell (O Vencedor), é um filme preocupado com seus personagens. Sendo uma das marcas do diretor deixar os atores mais à vontade - sem grandes interferências - torna-se possível que esses desenvolvam suas personas ficcionais a contento, deixando-nos a vontade para também classifica-lo como um filme de atuações. E as dessa película não decepcionam.


Bradley Cooper é Pat Solitano, um paciente bipolar - que em uma de suas crises quase comete uma fatalidade - tentando de toda forma uma reunião que ao seu ver é inevitável. Jennifer Lawrence vive Tiffany, mulher que transforma sua dificuldade em superar a morte do marido em agressividade direcionada ao mundo. E é essa condição psiquiátrica desbalanceada em comum e a busca por sua superação que os une, ainda que se estranhem inicialmente. Por meio de amigos, os dois se envolvem em um jogo que visa a melhora (ou seria o benefício?) de ambos.


Na película, o diretor acerta ao dar espaço para as fantásticas interações entre Cooper e Lawrence. Seus diálogos - afiados, bem humorados e carregados de emoção e sarcasmo - são declamados como enxurradas, envolvendo todos ao redor, inclusive o público. O trabalho de movimento corporal e os olhares e indagações são impressionantes. Nunca estive frente a frente com alguém com transtorno bipolar, mas Cooper convence em sua angústia, em especial em uma cena em que contesta o final de um livro de Hemingway.

Mesmo abordando temas sérios, o filme desenvolve humor de sobra em seu material. Sua montagem privilegia os diálogos rápidos, mas nem por isso rasos, dos atores. Pelo contrário, vemos as características de cada personagem transbordarem na forma como se expressam, seja em um pai com transtorno obsessivo-compulsivo voltado para seu fanatismo por futebol americano (com uma ótima atuação de Robert De Niro, como há muito não se via), ou em uma mãe dedicada à melhora do filho, ou mesmo no amigo, doidinho, que entende Pat tão bem (com o divertido Chris Tucker), expoentes no ótimo elenco de apoio. Divirta-se com a cena da "aposta", em que todos falam ao mesmo tempo, a melhor do filme na minha opinião.


O clímax torna-se memorável por não ser exagerado ou carregar demais nas ações. Engraçado, é um momento que defende firmemente a positividade, tão repetida por Pat ao longo do filme. Com inteligência e sem apelar para a breguice, o diretor - e todos os envolvidos na produção (com destaque para uma ótima trilha sonora) - conseguem trazer um humor comedido e oportuno para uma trama carregada e pesada. A sensação é a de assistir a um road movie sem a estrada. É um rito de passagem, e o resultado é encorajador.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Direto da Telona: Amor, ou O Filme Tristíssimo do Ano


Dos indicados ao Oscar a melhor filme deste ano, dois títulos chamam a atenção: são eles Indomável Sonhadora, filme estadunidense de estréia de Benh Zeitlin sobre o furacão Katrina, e o outro é o franco-austríaco Amor, dirigido pelo veterano alemão Michael Haneke. Veterano também em ganhar prêmios: são 59 prêmios (entre eles a Palma de Ouro em Cannes por este e por A Fita Branca de 2009) e 49 indicações.

O cinema francês vem mostrando força e influência na indústria cinematográfica americana nos últimos anos, culminando no Oscar do ano passado com o franco-americano O Artista, e neste ano já se tinha a certeza de que outro filme francês teria destaque no Oscar: Os Intocáveis, que não ganhou nenhuma indicação e curiosamente vai ganhar uma versão americana.
As indicações ao Oscar podem não medir a qualidade de nenhuma produção de fato, afinal se trata de um prêmio da indústria, e produções estrangeiras ganharam espaço nos últimos anos por motivos nem tão nobres, mas um filme como Amor não recebeu indicações a melhor filme, filme estrangeiro, diretor, atriz e roteiro original apenas por questões comerciais, também se trata de um serviço.
Uma das cenas mais tensas do Cinema

O protagonista Georges (o incrível Jean-Louis Trintignant) tranca a porta do quarto quando recebe visitas em casa, a fim de evitar que vejam sua esposa definhar numa cama. Mas os espectadores podem dar uma espiada (muito indiscreta) neste Big Brother da Terceira Idade, e com muita calma são convidados a refletir sobre a situação dos idosos numa sociedade ocupada demais que poderia estar em qualquer lugar, ao mesmo tempo em que podem apreciar o melhor do cinema.

Com uma fotografia inspirada (se prepare para não acompanhar o protagonista quando ele dizer que vai buscar algo) que favorece de maneira singular o cenário (basicamente um amplo apartamento em Paris, mas que poderia estar em qualquer lugar), os móveis (que são uma extensão do casal) e principalmente o trabalho primoroso dos protagonistas, em especial  a atuação física e sem vaidade de Emmanuelle Riva, que vive a simpática professora de piano aposentada Anne, que definha nos 3 atos do filme.
O diretor e seus astros

O engenhoso roteiro de Haneke em 3 atos é repleto de ótimos diálogos, e já começa com uma rápida cena que prepara o público para o rumo que o filme tomará, e de quebra ajuda a manter uma tensão assustadora por todo o filme. Nada é entregue gratuitamente: o público não sabe exatamente dos problemas de Anne, nem de onde vem/veio a renda do casal. Há um distanciamento anormalmente formal entre o casal, a filha (vivida por Isabelle Huppert) e os outros personagens, e algumas marcas (como a do protagonista abrir a carteira de tempos em tempos) que levam a reflexão. Sem contar o brilhante (e moralmente importante) final, que surpreende mesmo depois do aviso da primeira cena.



Alguns críticos chamam o filme de tristíssimo, mas não há nenhuma cena feita para as lágrimas. O que é de fato triste, é constatar que ser idoso não é fácil para ninguém, e o filme está ali para ser lembrado por muito tempo depois que você sair do cinema. Haneke deixa claro que ele não quer te emocionar, nem simplesmente fazer um bom filme, mas fazer você pensar sem ser didático, nem esfregar tudo na cara do espectador. Às vezes o sutil machuca mais.

sábado, 26 de janeiro de 2013

Star Wars Episódio VII, ou "Luke, Mickey Mouse Is Your New Father"


Após comprar a Marvel em 2009 por 4 bilhões de dólares, a Disney engoliu outra gigante em outubro passado por outros 4 bilhões de dólares: LucasFilm (a casa de Star Wars). 

Segundo George Lucas, o dono da LucasFilm e criador de uma das sagas de ficção científica mais poderosas e influentes do mundo "É hora de eu passar Star Wars para uma nova geração de cineastas. Sempre achei que Star Wars viveria além de mim, e eu penso que é importante montar a transição enquanto eu estou vivo. O alcance da Disney vai dar à LucasFilm a oportunidade de trilhar novos caminhos em cinema, TV, produtos interativos, parques temáticos, produtos ao vivo e outros direto ao consumidor". Tudo isso não quer dizer que Lucas está prevendo sua morte, apesar dela ser iminente, mas quer dizer que seremos bombardeados de produtos Star Wars nos próximos anos, além da série animada exibida pelo canal Cartoon Network, e dos jogos de videogame.
Entre os planos de Lucas antes da venda, havia uma série de TV com atores, centrada nos rebeldes e sobreviventes após os eventos de Episódio III, e a possibilidade da série vir a ser produzida pelo canal ABC (do conglomerado Disney) aumentou.

Mas a surpresa de todos foi a revelação de que a prioridade após a compra seria a produção de um Episódio VII. Surpresa, já que teoricamente toda a saga de Darth Vader (personagem-chave dos primeiros 6 filmes) e sua prole foi concluída. Seria então um recomeço dentro daquele universo de naves, sabres de luz, Siths, Jedis, Império, etc? Não importava. Todos queriam saber quem seria o diretor, já que George Lucas estava passando o cargo para um diretor mais jovem, e a partir daí fazer especulações.

Com negociações acontecendo mais rápido que o esperado, choveram rumores de diretores responsáveis pelo filme. O nome de Zach Snyder (diretor de 300, Watchmen, Sucker Punch e Homem de Aço) foi mencionado, mas logo veio a notícia de que seria uma filme baseado em Os Sete Samurais, clássico absoluto de Akira Kurosawa, que já foi adaptado pela Pixar na animação Vida de Inseto, e que seria um projeto para depois da estréia de Episódio VII, mas que também depende do sucesso ou fracasso de Homem de Aço em julho.

Esta semana o mistério acabou, e apesar de ter negado anteriormente, o diretor do recomeço de Guerra nas Estrelas será mesmo Jeffrey Jacob Abrams (ou J.J. Abrams). Peraí! J.J. Abrams não é o diretor de Star Trek (vulgo o reboot de Jornada nas Estrelas no cinema), e sua continuação Star Trek - Into The Darkness que estréia em maio? Pois é, ele mesmo.

Traidor ou não, ele é um nerd viciado em ficção científica assumido. E apesar da carreira de diretor de cinema ser recente (ele estreou com Missão: Impossível 3 em 2006), sua capacidade como produtor e diretor de TV (Felicity, Alias e Lost), além do sensacional recomeço de Star Trek, também ajuda a nos acalentar de que o novo filme estará em boas mãos, apesar de todos os riscos para sua carreira.
Em tempo: George Lucas (o ainda consultor criativo da LucasFilm) é amigo de Steven Spielberg, que foi homenageado por Abrams em Super 8, também produzido por Spielberg.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Direto da Telona: LINCOLN

Começo de 1865.

A Guerra Civil americana entra em seu quarto ano e Abraham Lincoln acaba de ser reeleito.

Após acompanhar cenas da selvageria da guerra, onde muitos dos soldados de casaca azul são negros, o público assiste a uma conversa entre o Presidente Lincoln e alguns soldados. Negros, eles contam seus feitos e indagam do político o que será deles no pós-guerra. E no olhar pensativo de Lincoln, encarando o vazio quando é deixado sozinho, já é possível sentir o tom dessa nova produção de Steven Spielberg.


LINCOLN (Lincoln, 2012) se propõe a mostrar todo o processo que levou à vitória do norte na Guerra Civil dos EUA bem como à aprovação da chamada 13a. Emenda, que dispunha sobre a abolição da escravidão no país. Mostra, portanto, a importância desse homem para a integração americana, o que acabou permitindo ao país despontar como uma potência mundial.

Em linhas gerais, o longa é um filme sobre política. Dessa forma, seu ritmo é sim lento, fazendo com que suas quase duas horas e meia de projeção sejam sentidas por quem não se interessar pelas conversas de bastidores que primam pelos ótimos diálogos e que possibilitam aos atores mostrarem do que são capazes. Tendo dito isso, o filme é muito bom, brindando o público com atuações excelentes e trazendo Spielberg em um de seus melhores trabalhos de direção. Considerando o tempo que o mesmo desejava tirar esse projeto do papel, encontramos um trabalho no qual o longo tempo de produção foi favorável, gerando um resultado final digno de todas as indicações e elogios que tem recebido.


É fato que o desconhecimento das minúcias históricas - por não sermos norte-americanos - acaba por fazer com que detalhes, idéias e sutilezas nos escapem, tendo em vista o tão conhecido patriotismo daquele país. Entretanto, o ensejo principal de acabar com algo que incomodava a muitos, apesar de isso evidentemente não acabar com o preconceito, ainda assim é algo tocante.


Uma fotografia que, por muitos momentos, tem uma iluminação suave, o que acentua o peso das salas da Casa Branca, ou de qualquer local onde os personagens se reúnem enfatiza a trama de gabinete. A grande quantidade de personagens gera um certo incomodo, pois temos que nos esforçar para lembrar se já os vimos antes ou não. Spielberg se foca em detalhes, em expressões faciais e o trabalho de linguagem corporal passa a ser determinante.


Daniel Day-Lewis representa de forma esplendorosa o presidente Lincoln. Sua maquiagem acaba aceita graças aos trejeitos e sua postura carismática. O respeito que arranca de seus assessores é justificado e nos sentimos atraídos por aquela figura. Suas cenas junto a Sally Field, que vive a esposa de Lincoln,  são emocionantes, críveis e fortes, assim como seu embate ideológico com Tommy Lee Jones, que vive um líder republicano.



O trabalho de ambientação é tecnicamente muito bem executado. Detalhes dos sets e a caracterização geral dos personagens é muito além do satisfatório. Steven Spielberg sempre teve como principal crítica à sua direção o exagero emocional, criando cenas com sentimentalismo exacerbado. Aqui, entretanto, temos uma direção equilibrada, mesmo em momentos onde  a dor dos personagens poderia ser intensificada. Ele aprendeu e não repete Cavalo de Guerra.

LINCOLN é uma película de técnica apurada, ótimas interpretações e uma direção exemplar, além de trazer a história de um homem notório. Ele sabia que estava lá para tomar decisões visando o bem de toda a sociedade. E é isso que o filme nos mostra: como Lincoln viveu, e como ele será lembrado.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Da TV: O Canto da Sereia, ou Existe Bahia Sem Mãe de Santo?

Segundo o jornal Folha de S.Paulo do dia 23 de janeiro, a cantora baiana Ivete Sangalo recebeu 650 mil Reais de cachê para fazer um show de inauguração do maior hospital da região de Sobral, no Ceará. Curiosamente a região é o "berço político" dos irmão Cid (governador) e Ciro Gomes. Não foi o primeiro, e nem será o último show da cantora que algum governo nordestino banca por motivos no mínimo duvidosos. Como artista, a cantora estaria apenas sendo contratada e sua imagem popular sendo utilizada pelos políticos para conquistar e agradar eleitores, mas há um código ético dos artistas pra situações como essa? Afinal, a combinação de música popular e política parecem ser polêmicas.
Foi nessa linha de raciocínio (ou não) que o escritor, jornalista, produtor musical e compositor Nelson Motta escreveu seu primeiro romance: "O Canto da Sereia - Um noir baiano", que mostra os desdobramentos da investigação do assassinato de uma famosa cantora de axé em pleno carnaval de Salvador, e as ramificações políticas do caso.
A morte da Sereia
Adaptado para a tv como uma microssérie em 4 capítulos diários, a história de Sereia, considerada a animada e sensual princesa do axé baiano que é assassinada em plena famosa Praça Castro Alves em Salvador em cima de um trio elétrico durante o Carnaval chamou a atenção dos telespectadores pro clássico e enganador "quem matou?". Já não é de hoje que a tv brasileira explora o tema (veio bem antes do boom Odete Roitmann), mas salvo exceções de filmes de terror americanos, os textos brasileiros costumam explorar o desenvolvimento dos personagens envolvidos no mistério, e o segredo em si é apenas consequencia (geralmente óbvia) destes desenvolvimentos. O Canto da Sereia não é diferente, o foco da versão televisiva é a personagem Sereia, e principalmente sua intérprete: Ísis Valverde.
É inegável que Ísis é a alma refrescante da produção, e fica difícil imaginar outra atriz no personagem com tamanho carisma, entrega e novidade. Surpreende mais saber que Ísis gravou sua primeira cena como Sereia poucos dias após sua última cena como a igualmente inesquecível periguete Suéllen da novela Avenida Brasil. Suéllen era uma periguete boliviana que não tinha medo e receio de nada, já Sereia é arroz de festa, porque quando sozinha é só tristeza.
Flashback na Patagônia Argentina
A cena que apresenta Sereia mostra ela tomando uma ducha, e nua pára frente ao espelho pra se olhar. Tinha tudo pra ser uma cena meramente sensual, mas ao se ver no espelho, o público imediatamente entende que essa "diva" está se sentindo tudo, menos sensual. E então ela tira um comprimido do fundo de uma caixa. Droga? Remédio? É o que a investigação do crime vai elucidar.
A montagem acompanha Sereia até seu assassinato, pra então mostrar os avanços da investigação particular do chefe de sua segurança Augustão (Marcos Palmeira competente tentando não parecer um Mandrake baiano) entre muitos flashbacks de tempos distintos, que irão explicar a relação da cantora com os suspeitos. Aqui a trama se assemelha com a serie Twin Peaks, pois vamos desvendando Sereia (humilde? Metida? Ardilosa? Bissexual? Frigida?) assim como Laura Palmer, com direito a diário também.
Figurino: Sempre saias, e muita renda pra realizar a fantasia
À primeira vista, fica parecendo repetitivo que grande parte do elenco tenha saído da novela Avenida Brasil, e sem dúvida foi um risco, mas os atores (e equipe!) mostraram que apesar da superexposição, uma entrega completa aos personagens e a história fazem toda a diferença. Além de Ísis, despreocupada em como aparece no vídeo e preocupada em fazer a cena funcionar, com outro sotaque, figurino e uma energia solar contrária a de sua personagem anterior, Marcos Caruso mostra o bom ator que é como o governador (ACM?) alvo da espada justiceira e popular de Sereia, e principalmente Camila Morgado, mostrando como a empresária, uma força masculina que muitos duvidariam. Completam o elenco Marcelo Médici como o marqueteiro (in)discretamente gay da cantora e do governador, a cantora Margareth Menezes estreando como atriz no papel da pouco vista Delegada Pimenta, Zezé Motta como uma mãe de santo de segundo escalão, Fabíula Nascimento incrível e seríssima como a jovem mãe de santo mais poderosa da Bahia, o sempre ótimo Fabio Lago como o braço direito de Augustão, e o sensacional e mais visto no cinema João Miguel como o fã e maquiador Só Love. O maior porém fica por conta de Gabriel Braga Nunes como Paulinho de Jesus, ex namorado de Sereia e o cara que a revelou. Me convenço que ele é um ator ok de um mesmo personagem, e que não deu nem metade do que poderia pelo papel.
Mas fica claro que nada disso resultaria num bom produto se não fosse o roteiro enxuto (que muda o final do livro) de George Moura, Patrícia Andrade e Sérgio Goldenberg, e que (pasmem) tem supervisão final de Glória Perez; os figurinos perfeitos de Cao Albuquerque e Natalia Duran (a idéia das rendas pra Sereia parecia clichê, mas funciona sem alarde); e a direção geral (que valoriza a estética moderna e a atuação do elenco) de José Luiz Villamarim sob o núcleo de Ricardo Waddington, não por acaso os mesmos por trás do sucesso de Avenida Brasil.
polêmica?
Uma polêmica rondou a estréia quando um pastor evangélico do interior de SP pediu que internautas boicotassem o programa, ao afirmar que a emissora valorizava mais as religiões afro-brasileiras (claramente depreciadas por ele e seus fiéis) que a evangélica. Não deu certo, e o programa foi tal sucesso de audiência para tal horário que a emissora pensa em transformar o material num longa metragem, além de inscrevê-lo para o Emmy. A emissora rival Record chegou a exibir uma longa matéria em seu principal programa dominical falando do assunto, e curiosamente cobrando a Globo a dar mais espaço para a religião evangélica em suas novelas.
Na opinião de quem vos escreve, seria impossível fazer O Canto da Sereia na Bahia sem mencionar o candomblé e ter uma mãe de santo (alvos da polêmica). E outra: a emissora é privada, ela pode decidir seu posicionamento político, religioso ou moral sem se preocupar se o povo pense que está sofrendo manipulação. Deveria caber apenas ao Estado fazer com que a população tenha educação suficiente pra ter opinião própria, sem se achar manipulado. Infelizmente não é o que ocorre, mas não é por culpa de uma mera emissora de televisão, que nem tem obrigação educadora.