sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

O MELHOR DRAMA DA TV: HOMELAND


Carrie Mathison é uma agente da CIA que ouve de um de seus informantes que o inimigo número 1 dos EUA, Abu Nazir (uma espécie de Bin Laden), converteu um soldado americano. Alguns meses se passam e, em uma missão, Nicholas Brody é resgatado. Sargento da Marinha, ele é encontrado em um dos antigos esconderijos de Abu Nazir. Não demora muito para que Carrie ligue os pontos e tenha uma certeza: Brody é o soldado convertido!

Estrelada por Claire Danes (Romeu + Julieta) e Damian Lewis (o Major Winters de Band of Brothers), respectivamente Carrie e Brody, HOMELAND surgiu como a melhor série da Fall Season americana. Produzida pelo canal Showtime, a série pode ser descrita como um ótimo drama e um thriller que te prende à poltrona.

Considerando o panorama americano pós 11/09, a personagem de Carrie é uma metáfora clara do Tio Sam. Não mede esforços para executar o seu trabalho e não vê limites na tentativa de provar o envolvimento de Brody em algum iminente atentado. Escutas ilegais, mentiras, pânico e teorias da conspiração surgindo a todo instante. Alguma semelhança com a caça às bruxas iniciada por Bush?

Claire Danes desfila sua capacidade como atriz. É impressionante o senso de urgência e ansiedade que a atuação transfere ao telespectador. Da mesma forma, saber que ela possui algum transtorno de humor, que gera uma dependência em um remédio tarja preta, a humaniza e nos faz questionar se ela deveria fazer parte da CIA e ter acesso aos dados que tem. Danes tem uma postura cansada, de uma pessoa que carrega o mundo nas costas. A forma como se veste e a pouca preocupação com a sua figura reforçam a construção da personagem. Ponto para a atriz e para a produção!

Brody também é um personagem muito complexo. A experiência em Band of Brothers parece ter facilitado as coisas para Lewis ao montar a personalidade do sargento, assustado com algumas coisas, mas muito seguro quanto a outras. É interessante ver como os roteiristas sabem "brincar" com isso, o fazendo flertar com os dois extremos possíveis: sim, ele é um terrorista; não, ele só ficou traumatizado pela guerra que travou. É um verdadeiro jogo de gato e rato, onde precisamos, além de tudo, decidir quem é o felino e quem é o roedor.

Não é de se admirar que a série tenha ganhado o Globo de Ouro de melhor drama e que Claire Danes tenha abocanhado o prêmio de melhor atriz. Sendo executada de forma competente e sendo guiada pela imprevisibilidade, seus 12 episódios - que compõem a primeira temporada - merecem ser conferidos. A série veio ocupar o lugar da finalizada 24 horas, sendo menos urgente que essa, mas tratando de alguns temas recorrentes nos dias de Jack Bauer: o voyerismo das agências de segurança americanas, bem como as manipulações, mentiras e dilemas envolvidos em cada operação militar.

Como diz o cartaz promocional, no início do post:
A NAÇÃO VÊ UM HERÓI; ELA VÊ UMA AMEAÇA.

E você, o que verá?

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

NAS BANCAS: HELLBLAZER - PASSAGENS SOMBRIAS


Ao ver Pedro Bial todas as noites saudar os "heróis da nave Big Brother", fica a certeza de que não havia momento mais oportuno para a Panini Comics lançar no Brasil a HQ HellBlazer: Passagens Sombrias (HellBlazer: Dark Entries, 2010). Fruto de um projeto da Vertigo de lançar histórias policiais (Vertigo Crime), essa talvez tenha sido a única a utilizar um personagem já famoso: John Constantine.

O mago inglês - criado por um trio encabeçado por Alan Moore e que teve sua primeira aparição na Graphic Novel Swamp Thing - é um mestre do ocultismo, executando exorcismos e "salvando pessoas", sempre de uma forma negligente e arrogante. Seu ambiente é o sobrenatural, enfrentando demônios e monstros, contando com o taxista Chas, com quem invariavelmente discute. Chegou a enganar o próprio Lúcifer, se livrando através deste de um câncer nos pulmões. Essa história, inclusive, foi mote para a adaptação aos cinemas. É um bom filme, mas foi muito criticado pelos fãs pelas "liberdades criativas" dos envolvidos (Keanu Reeves vive o anti-herói, que no gibi se parece fisicamente com o Sting e não é nem um pouco americano; o nome foi alterado para Constantine, para que não confundissem com Hellraiser...).

Em Passagens Sombrias, John é convocado por um produtor para investigar acontecimentos estranhos em um reality show(!). O mote do programa e colocar pessoas em uma casa e assustá-las até que uma encontre a saída. Entretanto, os sustos que tem acontecido não são fruto dos efeitos especiais da produção. Será a casa mal assombrada?

Tudo isso nos é explicado em poucas páginas da HQ. O roteirista Ian Rankin demonstra um timing correto e pacing coerente com o local onde tudo acontece. Sua experiência como escritor de romances policiais se faz evidente na forma como ele gasta o tempo correto com cada um dos seis concorrentes dentro da casa, permitindo que criemos vínculos (pelos mais variados motivos) com cada um deles. É difícil falar mais sem correr o risco de estragar as surpresas da trama.

A arte em preto-e-branco de Werther Dell'edera deixa um pouco a desejar. Ela não possui personalidade própria, flertando com o visual mangá em vários momentos. Hoje em dia, os grandes artistas de quadrinhos sabem utilizar bem o espaço que possuem. Não são só as personagens que contam, mas o ambiente também. E esse merece ser melhor retratado, algo que senti falta nessa HQ. Tudo bem que o cenário é, basicamente, o mesmo (a casa), mas um pouco mais de cuidado ajudaria no resultado final. A falta de cores não atrapalha, ajudando no tom seco e ágil da história. Fica a impressão de que a Panini também pensou assim, trazendo a HQ no formado pocket, em clara evidência de que o roteiro conta mais que a arte.

A leitura é rápida e divertida. Lembra em muito o desenrolar de um reality show: lento e explorativo no início; veloz e urgente do meio para a frente. Constantine está um pouco menos amargo e mais prestativo do que o habitual. Quem conhece o inglês talvez estranhe um pouco. Entretanto, é o final que surge como o seu calcanhar de Aquiles, um pouco apressado demais. Talvez se tivessem gastado um pouco mais de tempo com ele teríamos um final mais interessante. Mas nada que interfira na diversão.

O selo Vertigo, da DC Comics, sempre busca trazer novidades, fora do circuito dos super-heróis usuais. Recomendo a leitura deste e de muitos outros títulos desta. É uma forma "to think outside the box", como dizem os americanos. Fica a dica!

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Direto da Telona: Precisamos Falar Sobre o Kevin

Como sempre, toda obra literária sofre alterações quando transposta para a telona. É inevitável. Com o livro de Lionel Shriver, Precisamos Falar Sobre o Kevin (We Need to Talk About Kevin) não foi diferente. Sobraram elogios e críticas, pelo que parece, na mesma proporção.

O filme da escocesa Lynne Ramsay, que divide o roteiro com Rory Kinnear, mantém o nome do livro, Precisamos Falar Sobre o Kevin (2011), e se destaca por trazer ao elenco o nome de peso de Tilda Swinton, no papel principal como Eva. Tilda está maravilhosa no papel que lhe rendeu 17 indicações ao premio de melhor atriz em diversos festivais e associações como o SAG (Screen Actors Guild Awards), o BAFTA e ao Globo de Ouro.

Falar sobre esse filme terá dois desafios: não fazer comparação com o livro, que infelizmente não li, e escrever de maneira que não atrapalhe sua experiência de assisti-lo. Quanto menos informações você tiver, melhor. Mas vamos lá.

A cena inicial é extremamente simbólica pois vemos Eva feliz e solta num festival em que os bons costumes coletivo e santidade do alimento ficam de lado. Em seguida, vemos o contraste de uma Eva que parece se arrastar pela vida, sempre com um olhar de interrogação parecendo querer compreender algo.

Ficamos chocados com a indiferença, violência e desprezo com que essa mulher é tratada por todos que cruzam seu caminho. A partir daí, em flashbacks bem posicionados, vamos montando essa colcha de retalhos para entender afinal porque essa mulher que teria motivos suficientes para se entregar e não querer mais viver, se agarra a insistência de viver.

Onde foi que errei?
Vemos que sua vida é transformada depois de uma noite despreocupada de amor com Franklin (o sempre bom ator John C. Reilly) vem ao mundo o pequeno Kevin, uma criança que parece aborrecer a mãe e que por sua vez, parece sentir o desprezo da mãe, pois chora sem parar. Ficará na sua memória também a cena em que Eva sai de casa com o filho chorando e para ao lado de uma britadeira, o único som capaz de suplantar o choro do filho. Misturando o presente e o passado, acompanhamos essa relação tensa entre mãe e filho. De um lado, uma mulher que demonstra carregar a culpa do mundo em seus ombros e do outro, uma mãe que gostaria de não estar nessa posição, mas que se esforça para desempenhar o papel da melhor maneira possível.

O título que sugere uma conversa urgente com o pai sobre esse Kevin que mostra uma personalidade para a mãe e outra totalmente diferente para  pai, é urgente e você é levado a pensar que ela ocorrerá a qualquer momento. Mas a situação do filho tende a piorar a cada quadro avançado.

Seria esse o olhar do mal?
Eva só demonstra um certo conforto no papel de mãe quando nasce a pequena Celia (Ashley Gerasimovich), que sofre na língua afiada do irmão. Nesse período, o abismo entre mãe e filho parece intransponível e o cinismo de Kevin no tratamento com um pai permissivo é de assustar. O trabalho da diretora com a forte marcação de cores e olhares, revela-nos um Kevin (otimamente interpretado por Ezra Miller na adolescência) perturbado e incomodado com todos ao seu redor. Essa situação, levará o garoto à cometer atos que colocará inúmeros questionamentos sobre a trajetória da mãe, e se até mesmo uma inocente história contada de maneira singela por ela, fornecera subsídios para que o filho chegasse ao extremo da maldade.

Apesar de todos os fatos, de tantas as perguntas, vemos que no final, à duras penas, Eva entende que o papel de mãe vai além de amamentar e prover uma boa escola ou roupas de marcas. Talvez nem seja esse o intuito do livro ou do filme - passar qualquer tipo de lição ou moral, mas com certeza você sairá como se tivesse levado um soco no estômago, daqueles que nos fazem lembrar da dor por alguns dias!

O trailer abaixo, não entrega muito da história, por isso recomendo! Confira!


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

O Exorcismo no Cinema


Com a estréia no Brasil de "A Filha do Mal", o tema do exorcismo no cinema voltou à tona mais uma vez. O filme conta a história de Isabella, que vai a Roma fazer um documentário sobre exorcismos e descobrir o que houve com sua mãe, que matou três clérigos 20 anos atrás durante seu exorcismo, e hoje vive num hospital psiquiátrico católico. Em sua trajetória conhece dois padres que misturam fé e ciência pra desvendar o que é doença psiquiátrica de possessão demoníaca, e que podem ajudar sua mãe.


O filme que custou cerca de 1 milhão de dólares, surpreendeu nas bilheterias mesmo com censura alta ao derrubar "Missão Impossível: Protocolo Fantasma" do primeiro lugar e lucrar mais de 33 milhões apenas no primeiro final de semana. Até agora, o filme já lucrou apenas por lá mais de 50 milhões de dólares.

Os exorcismos começaram a ser explorados pelo cinema principalmente após "O Exorcista", clássico do terror de 1973, mas décadas antes o cinema já havia falado de possessões, mas o mais emblemático talvez tenha sido o polonês "Der Dibuk" de 1937, que baseado numa peça da cultura judaica mística que não existe mais, mostra entre outras coisas uma noiva que é possuída no dia de seu casamento pelo espírito de seu noivo anterior, já falecido, através de magia. Foi com o igualmente polonês "Madre Joana dos Anjos" de 1961, vencedor do prêmio especial do Júri de Cannes no ano, que o cinema viu cenas de exorcismo, quando no século 17 um padre vai investigar a possessão demoníaca de uma madre num convento isolado, e descobre que outras freiras também podem estar possuídas.
"Madre Joana dos Anjos"

Mas foi com os mitos criados em cima de "O Exorcista" e sua produção que filmes com possessão demoníaca, e por consequência exorcismos se tornaram cult e fonte de renda. O filme de 1973, baseado num livro que por fim era baseado em fatos reais, foi cercado de acidentes durante suas gravações. A protagonista Linda Blair, que viveu a menina possuída Regan, participou da primeira continuação do filme, e disse ter sido amaldiçoada pelo tema do filme mergulhando nas drogas e nunca progredindo como atriz. E dois dos atores que o demônio mata na trama, morreram de verdade após o lançamento do filme. Após o lançamento do filme, um cinéfilo teve um ataque durante a sessão, desmaiou e quebrou o queixo ao bater na poltrona da frente, com isso ele ganhou milhões da Warner, distribuidora do filme. Como ele não foi o único a ter ataques de medo durante o filme, a Warner à época fazia sessões com sacos de vômito. O filme recebeu 3 continuações diretas, e diversas cópias famosas em vários países. No começo dos anos 2000, a Warner decidiu retornar ao filme, produzindo "Exorcista - O Início", um prequel, mas outra série de incidentes aconteceram: o diretor original morreu antes das gravações, o novo diretor foi criticado por fazer um filme muito psicológico, então contrataram um terceiro que regravou quase tudo com o mesmo elenco estourando todo o orçamento, e recebendo críticas e bilheteria negativas, para então a Warner alguns anos depois lançar a versão do segundo diretor "Dominiom, que recebeu críticas positivas, mas ninguém assistiu.

boneco da menina de "O Exorcista"
Em 1979, "Horror em Amityville", baseado num bestseller também baseado em supostos fatos reais estreou com sucesso ocasionando nada mais que 8 sequências até culminar no remake de 2005 estrelado por Ryan Reynolds e Melissa George.

"A Filha do Mal" faz parte da leva mais recente de filmes de possessão demoníaca e exorcismo iniciada em "O Exorcismo de Emily Rose", que mostrava a história real do julgamento da Igreja Católica no caso de uma alemã que morreu durante seu exorcismo em 1976. Muito mais filme de tribunal, as cenas um tanto realistas e documentais do exorcismo inspiraram a nova safra em filmes como "O Último Exorcismo" de 2010, e até "Atividade Paranormal".

Se você gosta deste tipo de filme, está numa boa época.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Annie Awards, o Oscar das animações

O troféu mais polêmico
Ontem, sábado 4 de fevereiro foram entregues os polêmicos prêmios Annie, auto-intitulado a maior honraria da animação. Famoso por ser palco de brigas entre os estúdios, e não necessariamente entre seus filmes, o grande contemplado do ano foram "Rango", da Paramount através de sua Nickelodeon Movies com 4 prêmios. Este ano marcou o retorno da Disney/Pixar a competição.

O Annie entregue pela International Animated Film Society (ASIFA-Hollywood) acontece devido a contribuições de patrocinadores, no caso os próprios estúdios, e pelo visto os organizadores dividem esses patrocinadores por quantidade de contribuições. A DreamWorks, a Paramount e a Nickelodeon (do grupo Paramount) aparecem como Patrocinadores Ouro, seguidos pelo Cartoon Network, todo o conglomerado de animações Disney, Pixar e Sony como Patrocinadores Prata. Qualquer um pode se associar ao IAFS, mas desde a premiação do ano passado algumas mudanças foram feitas, como o voto ser válido apenas por profissionais da área de animação.

A polêmica do Annie começou em agosto de 2010, quando Disney e Pixar comunicaram que não iriam participar da premiação fazendo campanha ou inscrevendo seus filmes, uma vez que discordavam do critério de votação e alegavam que a DreamWorks havia trapaceado dois anos antes, quando "Kung Fu Panda" ganhou todos os prêmios, deixando o favorito "Wall-E" de mãos abanando. A DreamWorks havia comprado associações para todos os seus funcionários, e pedido pra que eles votassem em favor do estúdio, daí a explicação para "Wall-E" não ter ganho um mísero prêmio. Mas por que a Disney veio a se manifestar dois anos depois? Porque a premiação de 2010, vencida por "Up - Altas Aventuras", não teve a concorrência da DreamWorks. Já em 2011 a Disney/Pixar, que tinha "Toy Story 3" e "Enrolados", iria concorrer com "Como Treinar Seu Dragão", da DreamWorks, e se os critérios continuassem os mesmos, a história provavelmente iria se repetir. Mas mesmo sem apoio ao prêmio, a Disney/Pixar recebeu 7 indicações, já que estas podem acontecer a critério dos organizadores, frente a 39 indicações da DreamWorks.

"Rango", o grande vencedor
Como se percebe os vencedores são geralmente os filmes de grandes estúdios e muita propaganda, e neste ano não poderia ter sido diferente, e suspeitamente ganharam filmes dos patrocinadores Ouro, mas ao menos sobram indicações pra filmes menores como "Um Gato em Paris" e "Chico & Rita", que concorrem ao Oscar. Em sua 39ª edição ainda vai demorar pra maior honraria da animação recuperar seu verdadeiro pretígio, depois de tanta confusão organizacional.
destaque na tv

Entre os premiados e indicados deste ano os destaques curiosos que a Liga dá são para a indicação de "Star Tours", uma animação feita pra um brinquedo da Disney como melhor Produção Especial Animada, que foi vencida por "Kung Fu Panda - Secrets of The Masters", lançado direto em vídeo; O jogo "Insanely Twisted Shadow Planet", que venceu como melhor videogame animado de "Rayman Origins" e "Uncharted 3"; a Industrial Light&Magic dominou as indicações de Melhores Efeitos Animados em filme live-action, que ficou para "Transformers 3"; "Rio" e "Planeta dos Macacos - A Origem" só ganhou como Melhor Animação de Personagem respectivamente num longa animado e num longa live-action; Grace Potter e Michael Giacchino (sempre ele) venceram como melhor trilha sonora numa produção de tv com "Prep & Landing: Naughty vs. Nice", segunda continuação do desenho vencedor do Emmy que a Globo passou aqui no último natal como "Missão de Natal"; e por fim o prêmio de John Williams para "As Aventuras de Tintim", que foi bastante acadêmico e esquecível comparado com o trabalho de Henry Jackman em "Gato de Botas", aliás dentro do terreno da DreamWorks, acho injusto que o longa do felino tenha sido ignorado em vantagem do filme do urso panda lutador, mas de qualquer forma aí estão os principais vencedores:



Rango - Melhor Filme de Animação, Melhor Design de Personagem, Melhor Roteiro e Melhor Montagem

Kung Fu Panda 2 - Melhor Direção e Melhor Design de Produção

Os Simpsons - Melhor Animação pra televisão pra todos os públicos, Melhor Direção na Televisão, e Melhor Roteiro de um episódio

As Aventuras de Tintim - Melhores Efeitos Animados num Longa Animado e Melhor Música.

Prep & Landing: Naughty vs. Nice / Missão de Natal 3 - Melhor Animação de Personagem para tv, Melhor Design de Personagem para tv, Melhor música para tv e Melhor Storyboard para tv.



domingo, 5 de fevereiro de 2012

Oscar 2012 - Animação: UM GATO EM PARIS


UM GATO EM PARIS (Une Vie de Chat, 2010) surpreende como uma animação convencional 2D que diverte por sua simplicidade e beleza artística. Ele fala, mais diretamente, com um público um pouco mais adulto, mas seu protagonista felino consegue fazer brotar um sorriso em qualquer criança.

Dino é um gato parisiense que vive durante o dia na casa da delegada Jeanne, sendo o melhor companheiro de Zoé, uma menina introspectiva e solitária desde a morte de seu pai. Entretanto, durante a noite ele acompanha as peripécias de Nico, um gatuno que "passeia" pelos telhados, saltando de uma casa à outra e, com o auxílio do pequeno felino, rouba artigos belos, para figurarem em sua coleção particular.

Paralelamente, temos um ladrão mais ambicioso, Costa. Na mira da polícia, ele e sua trupe pretendem roubar o Colosso de Nairóbi, uma obra de arte que visitará a cidade em breve. Sim, é uma trama simples, mas que se desenrola muito bem e gera um ótimo ambiente para que todos se deliciem com as belas imagens.

Sim, esse desenho vai de encontro ao motivo de ser do cinema: ser visualmente inesquecível! Nos dias de hoje, em que a computação gráfica parece passar com um rolo compressor sobre essas animações mais simples e isso, em muito, acontece pela grande diferença de qualidade existente, assistir a uma película convencional que impressiona me encantou.

A utilização das sombras, a silhueta da cidade quando Dino e Nico pulam de um prédio a outro (com a Torre Eiffel ou Notre Dame ao fundo), a engenhosidade de uma cena em que a casa está escura, a visualização de um perfume que acontece de forma quase poética, tudo auxiliando a desenvolver o roteiro, não sendo somente um rompante. Destaque para a animação do gato, de uma realidade ímpar (seus espirros e espreguiçadas são verdadeiramente animais).

Em um ano em que temos RANGO no páreo, UM GATO EM PARIS corre por fora. Mas não ficaria surpreso se este ganhasse. Ele diverte e anima. E não é para isso que serve uma animação?

TOUCH, a nova série de Kiefer Sutherland e Tim Kring


"Kiefer Sutherland e Tim Kring retornam à TV em TOUCH, nova série da FOX".

Confesso que quando li essa notícia, alguns meses atrás, a minha tradução automática foi: Jack Bauer e o criador de HEROES estão de volta. E, apesar de minha empolgação pelo nome do primeiro, o do segundo não me trouxe boas recordações.

Em sua tentativa de contar a história de pessoas comuns, ao redor do mundo, com poderes extraordinários, o produtor e roteirista conseguiu transformar uma boa ideia (que não era original nem aqui nem no Japão, apesar dele tentar vender essa ideia) em uma sequência de péssimas escolhas, acabando cancelada e sem final. Dessa forma, é impossível para os fãs de seriados não ficarem com um pé atrás.

A série só estreia nos EUA em 19 de março, mas teve o seu episódio piloto divulgado na loja iTunes, para download gratuito desde o mês de janeiro, e foi coberta de elogios pelos que a assistiram. Ao meu ver, a série tem dois grandes desafios: convencer o público de que a pessoa em tela NÃO é Jack Bauer e de que Tim Kring é capaz de conduzir uma trama com vários personagens sem criar uma bagunça.

"Há um antigo mito Chinês sobre o Fio Vermelho do Destino: ele diz que os Deuses amarram um fio vermelho no tornozelo de cada um de nós e o conectam com os tornozelos de todas as pessoas cujas vidas estamos destinados a TOCAR". É com essa explicação e muitos números que a série começa, com a narração de Jake. Aprendemos, de forma rápida e com uma bela abertura, o pressuposto do enredo, onde os padrões matemáticos que o garoto autista vê de forma tão clara regem as relações entre as pessoas e os acontecimentos no mundo. Ah, descobrimos também que essa será (pelo menos por enquanto) a última vez em que ouviremos a voz do rapaz, que é mudo.

Fui surpreendido. Com um desenrolar interessante, o episódio é muito bem executado. Somos apresentados a Martin Bohm (Kiefer Sutherland), o pai do garoto, que tenta cumprir o papel de pai e mãe (já que a mesma faleceu no 11/09), mas não consegue criar um bom relacionamento com o filho. Logo de cara, os gritos ao telefone e o famoso Damn It me fizeram "temer" que Jack teria mais 24 horas para resolver algum problema. Ledo engano. Pouco a pouco, Sutherland traz o novo personagem à vida, alguém mais disponível emocionalmente.

Vários personagens, ao redor do mundo, começam a ser apresentados. E há uma conexão entre todos. Alguém aí pensou HEROES??? Engraçado, eu também. Mas, verdade seja dita, tudo acontece de forma organizada e orgânica. Conhecemos a assistente social (Gugu Mbatha-Raw) que tentará ajudá-lo a entender melhor o garoto, Arthur (Danny Glover), alguém que parece entender o mundo de padrões e números do garoto, Randall Meade (Titus Welliver, o Man in Black de LOST), entre vários outros. Diversas histórias acontecem em paralelo, criando no espectador aquele laço afetivo, que nos faz querer assistir mais, para conhecer melhor essas pessoas e suas vidas. Ótima execução!

O episódio piloto, com a direção de Francis Lawrence (Eu sou a Lenda), com o perdão do trocadilho, me tocou. Resta saber se Tim Kring conseguirá sustentar (leia-se não estragar) o bom início. Tomara que os próximos capítulos consigam, pelo menos, manter o ritmo e boa produção deste. Tomara que Jake possa trazer bons desafios para Martin. Qualquer coisa, chamamos o pessoal da CTU e a Chloe dá um jeito de resgatar o ator das mãos do produtor.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

O que é "Chronicle / Poder Sem Limites"?

Estreou nesta sexta-feira 3 de fevereiro nos EUA o filme "Poder Sem Limites" (Chronicle, 2012) distribuído pela Fox. O filme é do gênero "câmera documental" que se mostrou um bom chamariz de público (e até crítica) principalmente desde o independente "A Bruxa de Blair" de 1999, que custou 60 mil dólares e lucrou cerca de 250 milhões no mundo todo. Desde então o cinema busca contar uma história por esta câmera subjetiva, como o terror espanhol "REC" de 2007, que rendeu um remake americano; "Cloverfield - O Monstro" de 2008, e o filme independente que resultou na franquia "Atividade Paranormal" de 2007, que custou apenas 15 mil dólares e lucrou cerca de 200 milhões no mundo todo quando lançado em circuito comercial em 2009.

Pouco se sabia sobre "Poder Sem Limites", que teve um trailer bastante comentado que mostra 3 amigos que têm super poderes, e ficam filmando suas brincadeiras, mas que também revela um conflito violento cheio de efeitos especiais. A trama acompanha Andrew, um garoto com problemas em casa e na escola que compra uma câmera filmadora e decide filmar tudo, e que junto com mais dois amigos, após sair de uma festa e encontrarem um buraco com algo estranho, adquirem poderosas habilidades sobre-humanas. Andrew então usa seus poderes para conseguir a tão desejada popularidade na escola, mas as coisas começam a ficar descontroladas, e por fim erradas para ele, e revoltado resulta numa descontrolada batalha contra seus amigos e, ao que parece, a sociedade.

os 3 amigos nem tão super assim
Alguém aí lembrou de "com grandes poderes vêm grandes responsabilidades" do Tio Ben pro Peter "Homem Aranha" Parker? Pois acho que sim, o filme terá este elemento, mas se aproximará muito mais de outro ícone, "Akira", o definitivo longa de animação japonês que ajudou a definir conceitos de ficção científica e universo cyberpunk que filmes como "Matrix" e muitos animes utilizaram. A trama de "Akira", que vai virar uma superprodução hollywoodiana produzida por Leonardo DiCaprio em 2013, fala sobre um rebelde sequestrado por um orgão de paranormalidade do governo que faz experimentos com crianças prodígio, que após desenvolver super poderes, enlouquece e se torna uma ameaça global, do qual seu melhor amigo tentará conter. O trailer de "Poder Sem Limites" mostra Andrew descontrolado e com cara de mau, e uma garota gritando desesperada o nome do protagonista, assim como o nome Kaneda é gritado em vários momentos de "Akira".

Enquanto escrevia este post, encontrei uma entrevista que o diretor deu para o site Bloody Disgunting, assumindo a influência, e dizendo ser um grande fã do longa japonês. Infelizmente o vídeo está em inglês, mas a parte que fala de "Akira" é a parte final da entrevista, após ele dizer que não queria um filme de jovens triviais.


Esperamos que um filme interessante desse faça sucesso, e teremos alguns números das bilheterias americanas e canadenses já na segunda-feira, mas o brasileiros só poderão curtir o filme no dia 9 de março. Enquanto isso fique com o interessante trailer!

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Direto da Telona: As Aventuras de Tintim

Provavelmente, em alguns anos, a Academia deverá criar um prêmio para distinguir uma categoria que vem crescendo em Hollywood – a de filmes feitos com captura de movimentos dos atores. Esse tipo de filme vem crescendo, aumentando o realismo das cenas, já que um ator as fez, e facilitando a vida os responsáveis pela animação, que pode usar o movimento dos atores para dar vida aos personagens, já que não precisará inventar a maneira de andar ou até mesmo os trejeitos.

Desde a trilogia “O Senhor dos Anéis” em que a personagem Gollum herdou os movimentos de Andy Serkis e a finalização de arte com os técnicos da empresa de Peter Jackson, a Weta Digital, discute-se na Academia se um ator que atuou para a captura de movimentos pode concorrer ao Oscar de Melhor Ator, afinal, houve atuação, mas a finalização não é do ator, e sim de um cara especializado em informática. Enfim, isso ainda renderá boas discussões até que se chegue a um veredito.

Tudo isso para falar que filmes com captura de movimentos são mais comuns a cada ano, e talvez tenha chegado ao seu ápice atual com “As Aventuras de Titntim – O Segredo do Licorne” (The Adventures of  Tintin, 2011) filme dirigido por Steven Spielberg com produção executiva de Peter Jackson.

O filme é baseado em duas obras do repórter aventureiro Tintim, criado pelo cartunista belga Hergé – O Caranguejo das Tenazes de Ouro e O Segredo do Licorne. As peripécias de Tintim ganharam forma a partir dos relatos que Hergé tinha acesso na época em que trabalhava no jornal Le XXe Siècle e nas próprias viagens que fez por alguns países da Europa. Hergé conheceu Spielberg meses antes de falecer e expressou sua preferência que se Tintim fosse parar no cinema, que fosse pelas mãos de Spielberg.

Os anos se passaram e Spielberg diz ter esperado o momento certo para trazer à tela grande a personagem que é admirada e lida por várias pessoas ao redor do mundo. É aquela velha história de que ainda não havia disponível uma tecnologia que fosse capaz de traduzir o que ia na mente do diretor. Pelo visto, valeu mesmo esperar.

Aliado às excelentes atuações de Jamie Bell (Tintim), Andy Serkis (Capitão Haddock) e de Daniel Craig (Rackham) e a perfeição da pós-produção do pessoal da Weta Digital, o filme parece estar ligado no 220V desde o início! Quase não há momentos em que o espectador fique sem momentos grandiosos e de intensa ação para assistir. O 3D do filme funciona muito bem, oferecendo uma sensação de realismo como que inserindo a plateia na tela. É claro que algumas das melhores e mais divertidas cenas ficam por conta do cachorro e fiel amigo de Tintim, Milu, e possivelmente se na plateia houver muitas mulheres, você ouvirá alguns “ahhhh” nas cenas em que o fox terrier banco aparecer.

O filme é divertido, ágil e empolga a cada dez minutos, com sequências de tirar o fôlego. A parceria Spielberg-Jackson, dois apaixonados pela obre de Hergé,  proporciona um dos melhores filmes das férias e que atende à todos os públicos.

Talvez você notará algumas cenas em que pensará – já vi isso antes! – e como não sou leitor das obras e me lembro vagamente dos desenhos que assistia na infância, não sei dizer se elas foram tiradas de alguns filmes ou se faziam parte das histórias originais. Mas você verá na abertura uma bonita sequência que lembrará Prenda-me se for Capaz, um encontro de navios que parece ter sido tirado de Piratas do Caribe – No Fim do Mundo, e uma perseguição de moto que lembra Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal.


Tomara que a fraca arrecadação nos Estados Unidos – após um mês em cartaz, o filme chegou a US$72 milhões – não atrapalhe os planos de uma possível sequência, pois o restante do mundo está sabendo apreciar o filme mais divertido de Spielberg desde Jurassic Park. Se for conferir nos cinemas, prefira a exibição da Sala Imax (no Shopping Bourbon Pompéia, a única em São Paulo), fará toda a diferença! 




quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Direto da Telona: Tomboy



"Tomboy" (França, 2011) começa com uma criança loura de cabelos curtos com aproximadamente 10 anos, de braços abertos, com árvores passando rapidamente ao fundo, sentindo o vento passar pelos seus dedos e cabelos aludindo a liberdade, que a sociedade fará questão de lembrá-la que não tem. Logo percebemos que ela está em pé no carro conversível, enquanto seu pai dirige rumo ao novo lar, onde a mãe grávida, e a irmã menor os esperam. Depois de conhecer a nova casa, a criança abraça a mãe, que diz "Gostou do seu quarto? É azul como você pediu". Mas logo o tédio de ficar dentro do apartamento enquanto a irmã pequena brinca de coisas bobas, o pai trabalha fora, e a mãe fica de resguardo bate, e a criança vai pra rua depois de ver um grupo de garotos se organizando pra brincar. Quando desce, não os encontra mais, mas conhece a bela e divertida Lisa, de mesma idade, que pergunta seu nome, e olhando para os ladosno responde "Michaël".

Até aí temos um típico e simpático filme mostrando uma criança se descobrindo e crescendo, mas "Tomboy" é mais que isso. Quando volta pro apartamento, essa criança vai tomar banho com a irmã de 6 anos, até que depois de um bom tempo na água a mãe aparece pra tirar a caçula da banheira e diz "Laure, saia também". E sem pudores, a criança se levanta nua e mostra um corpo feminino em transformação.

Lisa e Laure flertam sob uma mentira?
Acostumados a tratar temas delicados no cinema com certa naturalidade, os países de língua francesa, e principalmente a França mostram toda a filosofia de temas que poderiam soar cínicos em lugares como os EUA. Tomboy é gíria em inglês para definir meninas que parecem meninos, e só por isso o filme de alguma forma perde um pouco sua característica, já demoram alguns bons minutos pro público descobrir que a criança é uma menina, que claramente está querendo se passar por menino.

O filme lembra em alguns aspectos o belga vencedor do Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro em 1998 "Minha Vida em Cor de Rosa", que mostra um garoto de 7 anos que gosta de se vestir de mulher, mas mostrado por um viés mais cômico, mas se aproxima mais da maturidade do argentino "XXY" sobre um adolescente hermafrodita que sofre de seus pais a pressão da escolha. Só que diferentemente do filme argentino, "Tomboy" não fica focado nas reações dos pais ou mesmo da sociedade, pois é Laure quem acompanhamos o tempo todo, e o roteiro não usa a trama pra criticar a sociedade ou um indivíduo falando apenas de preconceito, deixando claro que "cada um é cada um", o no final o que importa é o que você é pra você mesmo e para aqueles que ama. Laure e, aparentemente sua família, não tem problemas por seu jeito de menino, é algo veladamente assumido, mas todos sabemos das consequências de enganar os outros. Sem a menor trilha sonora instrumental, há cenas de poucos diálogos e algum desconforto que você pode prever uma explosão da menina, mas ela não parece estar se martirizando com a pressão da mentira.
A caçula Jeanne e Laure brincando
A diretora Céline Sciamma, que já tocou no tema gay em "Lírios D'água" de 2007, tem um pouco da leveza dos Irmãos Dardenne, que ganharam notoriedade mundial desde o premiado  "A Criança", e já disse em entrevistas que o filme só foi possível por ter encontrado Zoé Héran, a intérprete de Laure, que atua com seriedade sem jamais deixar de ser criança. Mas muito do charme do filme também reside na intérprete da irmã mais nova de Laure, a atriz-mirim Malonn Lévana, que usa a própria inocência pra surpreender e, indo mais longe, criticar a audiência. Altamente indicado, o filme está restrito ao circuito de cinema de arte, mas abre o circuito em 2012 com chave de ouro, deixando claro que o que importa é o que você acha de si próprio.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Direto da Telona: O ESPIÃO QUE SABIA DEMAIS


Uma sala "claustrofobicamente" fechada. Paredes à prova de som. Control (John Hurt), chefe da Circus - elite do serviço secreto britânico - anuncia sua saída e de George Smiley (Gary Oldman). Este último, apesar de desconhecer a sua própria saída, não esboça reação frente aos demais presentes na sala. Sai resignado e a câmera o segue pelos corredores, escadas, até chegar ao térreo, onde passa pelo porteiro e começa o caminho para casa. O ESPIÃO QUE SABIA DEMAIS (Tinker Tailor Soldier Spy, 2011) é o cinema em sua essência: a imagem carregada de significado.

Em seu novo filme, Tomas Alfredson parece querer continuar tratando do medo x atitude, como já havia feito em Deixe Ela Entrar. Lá, tínhamos a vampira e seu amigo, a primeira lutando (ou seria administrando?) sua capacidade de fazer o mal; o segundo, tentando lidar com seus problemas. O encontro dos dois os ajuda a ampliar o seu auto conhecimento e lhes dá força para seguir. Agora temos um novo panorama: a Guerra Fria. Encrustada no meio do fogo cruzado de CIA e KGB, a Circus tem em seu alto escalão pelo menos cinco ou seis agentes dignos de ostentar a alcunha do título do filme.

Após uma operação mal sucedida em Budapeste, assistimos à cena descrita no início deste post. Mas bastam poucos dias para que Smiley seja tirado de seu sossego: suspeitasse da existência de um traidor russo infiltrado e o governo precisa novamente de seus préstimos. Smiley é o agente para o serviço. Frio e objetivo, dá início a um processo investigatório de espionagem como ele deve ser: sem explosões e tiros, mas cheio de escutas, entrevistas e documentos comprometedores. O diretor e seu fotógrafo acertam ao escolher filmar os acontecimentos de um ponto distante, tornando-os, de certa forma, objetos de nosso voyerismo investigatório. Além disso, os cenários e figurino sóbrios e frios contribuem para criar o clima de tensão, que domina toda a película.

Gary Oldman apresenta uma interpretação muito diferente do seu habitual. De fala mansa e decidida, eleva a voz apenas em dois pontos, claramente motivados. Seu óculos, mantidos até durante a sua natação, torna-se o seu Aston Martin, como ele mesmo informou em uma entrevista sobre o filme. Sua indicação ao prêmio de melhor ator se justifica e fica inegável na cena em que conta a Peter Guillam (Benedict Cumberbatch, mostrando que é mais do que Sherlock) o seu encontro com "Karla" (chefe da KGB).

O elenco é fabuloso. Além dos já citados, temos Mark Strong, Colin Firth, Ciaran Hinds, Toby Jones. Tom Hardy, cada vez melhor, é responsável por uma das cenas de flashback mais interessantes e densas. Aliás, a forma como a trama nos é contada, não-linear, funciona muito bem. Ao investir nessa estratégia, o diretor traz a imagem acompanhada por uma narração, a do entrevistado. Dessa forma, as interpretações de quem está em cena dependem muito mais de expressões faciais, movimentos corporais e agilidade/bom posicionamento da câmera. E nesse quesito, a equipe envolvida está de parabéns.

A trilha sonora, composta por Alberto Iglesias, é marcante e dá o tom às cenas. Suas notas parecem evidenciar o que devemos prestar atenção nos ambientes apresentados, nos tornando parte da investigação. Aí está outro grande acerto do filme: ele não nos convida a tentar desvendar quem é o espião, mas sim a acompanhar quão estafante á a vida de um espião, que abdica de todo o resto e vê em tudo algo para desconfiar. Uma subtrama de Smiley é particularmente interessante e o diretor, de forma inteligente, nos mostra a frieza com que o espião (vira de costas quando descobre) e o diretor (não mostra a personagem que motiva a situação claramente em nenhum momento) tratam a vida pessoal do mesmo. Smiley, por sinal, é a grande ironia do filme, por ser um nome de alguém que não dá um sorriso sequer durante todo o longa.

Dino Jonsater executa com inteligência a sua montagem, tornando a trama, por natureza um tanto quanto parada, fluída. Ele consegue intrigar e instigar na mesma medida, favorecendo o resultado final. Aliás, por falar em final, a cena que finda o filme é de uma beleza cinematográfica ímpar: ao som de La mer, cantada por Julio Iglesias, vemos uma sequência de cenas autoexplicativas e carregadas de significado.

O filme é um ótimo exemplar de filme de espionagem e merece ser conferido. O roteiro, uma adaptação do livro de John Le Carré, tem mais um mérito que, pelo menos comigo, conquistou: a trama foi tão interessante que me instigou a querer ler o livro. Eu sei que um bom filme não significa uma boa obra literária (ou vice versa), mas acho que vou arriscar. De suspeitas, chega as do filme...

OBS.: o nome em inglês do filme se justifica de forma brilhante (na minha opinião) durante a película.

Band of Brothers: Encruzilhada e Bastogne

Nos episódios 5 e 6 da premiada série "Band of Brothers", acompanhamos as histórias centradas no capitão Dick Winters e do enfermeiro/socorrista Eugene "Doc" Roe.

Em "Encruzilhada", o capitão Winters leva a Companhia Easy à uma batalha em que sua inteligência e visão de líder em campo, acaba por conduzir a companhia E em uma das vitórias mais impressionantes da minissérie. Após a informação de que um dos soldados foi atingido por um dos disparos na rodovia próximo ao QG onde estavam, Winters decidi sair com uma patrulha para verificar o que estava acontecendo. Passaram a noite entrincheirados, observando que os alemães estavam aguardando a retirada daquela área de batalha.

Ao perceber que se não fizesse algo, toda a companhia poderia ser cercada pelos alemães que estavam em maior número, Winters decidi atacar. Examinando o campo e as condições, ele monta a estratégia e surpreende os alemães, composta de duas companhias inteiras de soldados das SS - aproximadamente 200 homens!

A operação é um sucesso! Duas companhias inteiras de alemães capturados e apenas um morto do lado dos aliados.

O avanço do Capitão Winters no episódio Encruzilhadas
O resultado dessa operação, que um soldado chega a atribuir com "sorte"e o capitão Nixon corrigi o soldado afirmando que sorte não teve nada a ver com isso, é que o capitão Winters é promovido para uma função burocrática, que ele obviamente não gosta muito. Vemos esse descontentamento no início do episódio quando ele é cobrado sobre relatórios e inventário! Nos depoimentos dos soldados, vemos a admiração que todos guardavam pelo capitão, que nunca imaginou não ser o primeiro a avançar sobre o inimigo. Essa atitude, de um líder que não abandona seus soldados, é admirada a ponto de se afirmar que "ele seria seguido a qualquer lugar"! 

No episódio, o soldado alemão morto por Winters
Nesse episódio, vemos ainda que o capitão Winters tem uma preocupação com o que se faz na guerra, pois a imagem de um soldado alemão que ele mata logo no início do ataque, o persegue em seus pensamentos. Outra preocupação é com quem comandará a Easy Company no campo de batalha já que o Tenente Moose, um soldado de confiança de Winters foi atingindo por fogo amigo.

No final do episódio, a companhia E está se dirigindo para uma das piores batalhas que enfrentariam - A Batalha do Bulge em Bastogne, no rigoroso inverno Europeu!

Eugene Roe
No episódio 6, centrado no enfermeiro Eugene "Doc" Roe, vemos o quão difícil foi a luta em um lugar cercado pelos alemães, num frio de congelar a alma, onde vários soldados tiveram problemas graves nos pés com a chamada "pé-de-trincheira",  provocado pela condição de alta umidade nas trincheiras. Além dessas condições, ainda havia o problema de falta de munição, de roupas para as congelantes temperaturas e alimentação. E para piorar, quando os aviões com suprimentos eram enviados, devido ao espaço mínimo que separava os alemães e os aliados, e o tempo sempre com neblina,  os suprimentos sempre caiam do lado alemão. 

Doc Roe era respeitado pois nunca desistia de levantar a moral dos soldados e sempre preocupado com a condição dos amigos que estavam na pior condição desde que chegaram ao território Europeu. Além do poder de fogo alemão ser superior, ao atingir as árvores, o poder de fogo se multiplicava, espalhando destroços sobre todos.
No episódio Bastogne, Doc Roe observa
um momento de descontração dos amigos!

Nesse episódio, vemos um dos poucos momentos em que os soldados tem contato com as enfermeiras que serviram voluntariamente nas frentes de batalha. Existe um flerte entre a enfermeira Renee e Doc Roe (uma homenagem à essa enfermeira, que na verdade serviu e cuidou dos soldados americanos, mas não conheceu os homens da companhia E), mas que é interrompido de forma trágica e lembra ao soldado como é importante coisas simples da vida como um sorriso, um copo de whisky ou um episódio de chocolate.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Breve na TV: Smash

Em 1886, uma peça de teatro de mais de 5 horas de duração estreou em Nova Iorque usando dança e músicas originais pra contar sua história. A região do Distrito do Teatro, que acabou denominada 'Broadway' por estar na hoje na mais agitada área da rua Broadway na Ilha de Manhattan, já existia a todo vapor, mas depois deste primeiro musical, o teatro americano se destacou e se diferenciou de seu irmão londrino. 

Em 1881, um cara chamado Tony Pastor (que mais de 60 anos depois daria nome a um prêmio importante) fez uma série de musicais ainda mais originais, e principalmente profissionais que definiu o que conhecemos como "musical da Broadway" hoje. Desde então cantar, dançar e atuar virou uma tradição no teatro americano, e uma grande jornada pros atores que fazem este caminho. Tradição esta que tomou conta do cinema após a Segunda Guerra Mundial, e bem mais tarde começou a aparecer esporadicamente nas séries televisivas também. 

"I am beautiful..."
Mas a partir de 1985, com o fim da União Soviética, os musicais na tv e cinema precisaram passar por uma reforma pra tratarem de temas que falassem menos da sociedade americana, mas as paródias que pouco agregam se proliferam, e "Evita" se torna um grande fracasso nos cinemas em 1996. O cinema só voltaria a produzir musicais depois de "Moulin Rouge" em 2001. E a tv tenta fazer um seriado musical em 2007 com "Viva Laughin" produzido por Hugh Jackman, mas que fracassa pela história fraca e números dublados. Mas em 2009 estréia "Glee" criado por Ryan Murphy, e com os prêmios e audiência parece ser bem viável fazer musicais na televisão tão profissionais quanto no teatro.

Provavelmente pensando nisso Steven Spielberg (sempre ele) e alguns nomes acostumados com adaptações de musicais pro cinema resolveram produzir a série dramática "Smash" que mostre os bastidores de um musical na Broadway. A série conta a história de dois amigos (Debra Messing de "Will & Grace" e Christian Borle, com experiência de musicais) que querem fazer um musical sobre Marilyn Monroe, aproveitando os 50 anos de morte da atriz. Cada um tem seus próprios problemas pra resolver, além de precisarem da produção executiva da personagem vivida por Anjelica Houston, que está passando por um financeiramente turbulento divórcio, e a direção do genial mas complicado Derek (vivido pelo inglês Jack Davenport). Mas a série tende a ficar focada na morena Karen, personagem vivida pela ex-participante do "American Idol" Katherine McPhee, que disputa o papel de Marilyn com a platinada experiente Ivy (Megan Hilty). São as duas que mostrarão quão difícil é se dedicar a um musical da Broadway, e ter que abrir mão de muitas coisas e conceitos.
O ótimo número do baseball

A série estréia apenas dia 6 de fevereiro nos EUA, mas está tendo seu episódio piloto distribuído há algumas semanas pra tentar conquistar o público. O que se vê por este piloto é que a série não pode ser muito comparada com "Glee", que tem o humor corrosivo e altamente crítico de Ryan Murphy, pois fica bastante na superfície dramática da trama e de seus personagens. E as sequências musicais deste piloto são poucas, mas deve-se considerar que das músicas cantadas, apenas "Beautiful" da Christina Aguilera não era original. A série deve então se apoiar em músicas criadas para o musical fictício de Marilyn Monroe, deixando pouco espaço para músicas populares.

Pode parecer perseguição, mas Steven Spielberg estar na produção não me inspirou muita confiança em termos algo no mínimo original em qualquer aspecto. Tanto que não sou apenas eu a dizer que "Smash" é um "Glee" sem humor com o recente filme "Cisne Negro" sem a paranóia aterrorizante. Mas pode surpreender pela enorme quantidade de referências e participações que terá aos musicais da Broadway turística. E homenagear Marilyn Monroe não é nada deselegante.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O Cinema e a Criatividade...


O cinema, nos últimos anos, tem nos coberto com mais e mais adaptações. Sejam livros ou HQs, a verdade é que, cada vez mais, vemos os roteiristas somente adaptando argumentos pré-moldados, deixando de lado o espírito criativo e inovador de sua profissão, que envolve sim o lado estrutural, mas que também incentiva esse lado original. É muito legal ver algo que já imaginamos através da leitura ser transposto para a telona, não me entendam mal. Mas, eu gostaria muito de ter novas histórias sendo contadas.

O pior viés desse contexto é a forma como os produtores, ao perceberem o rincão de ouro que atingiram, insistem em garimpar e tentar adaptar toda e qualquer obra que surge. Muitos livros e HQs já tem seus direitos vendidos antes mesmo do lançamento. Isso aconteceu com o novo Sherlock Holmes, com Scott Pilgrim (não havia sido finalizado), com o livro As Ruínas (de Scott Smith), entre vários outros. Muitas vezes, a sétima arte presta um serviço ao original, como fez com O Procurado (péssima HQ, bom filme) e Kick-Ass (boa HQ, ótimo filme). O fato é que, independente das intenções, algum critério deveria ser empregado.

A HQ ATLANTIS RISING (2007/08), escrita por Scott O. Brown e desenhada por Tim Irwim, é uma dessas Graphic Novel que teve os seus direitos adquiridos pela Dreamworks Animation (Spielberg), sendo que Alex Kurtzman e Roberto Orci (que escreveram Star Trek e M:I III e cometeram Transformers e Cowboys & Aliens) tiveram anos para desenvolver a produção. Entretanto venceu o tempo contratado e os direitos retornaram para a Platinum Studios (Cowboys & Aliens), que vai desenvolvê-la, sob a batuta de Mark Canton (Imortais e 300).

E a grande pergunta é: vale a pena? A trama, dividida em cinco partes, envolve certos abalos sísmicos que levam militares (sempre eles) a investigar e, acabam "provocando" o povo das profundezas, disposto a guerrear com o povo da superfície. Mais um blockbuster que oferecerá a possibilidade de encher as cenas de grandes efeitos especiais e, com certeza, inflacionar o valor dos ingressos, com o 3D, que muitas vezes não agrega nada à película.

O roteiro não oferece nada de novo e que não tenha sido explorado em, por exemplo, Fathom (de Michael Turner e sua personagem principal tem a cara de Megan Fox) e no conhecido Aquaman (agora sob o controle criativo do grande Geoff Johns). Esses dois, por sinal, o fizeram com uma visão mais interessante. Talvez esses dois gerariam melhores filmes. Ou melhor, levando em conta o que foi colocado no início desse post, por que não investir nos grandes escritores dessas tramas para desenvolverem algo novo (em tempo, Michael Turner faleceu em 2008, depois de contribuir para Witchblade, Soulfire e Superman/Batman).


O jeito é esperar e torcer para um bom filme, mas gostaria de ver uma mudança nessa tendência do cinema. Filmes como Meia-Noite em Paris, por exemplo, partindo de um roteiro original, emociona e tem uma produção tecnicamente impecável. E olha que o mercado oferece bons nomes. Diablo Cody (Juno), os próprios Alex Kurtzman e Roberto Orci, Rhett Reese e Paul Wernick (Zumbilândia), Jonathan Nolan (os novos filmes do Batman) são nomes novos que são bastante criativos. O que falta é o investimento e voto de confiança das grande Produtoras.

A abundância de grandes séries também revelam, dia após dia, muitos bons nomes, criativos e ousados. Por que não incentivar? Somente assim, novos Woody Allens e Aaron Sorkins surgirão. E eles também são necessários...

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

The Normal Heart & a História da AIDS

Quando a crise da AIDS começou no fim dos anos 70, e começou a preocupar politicamente no começo dos anos 80, achavam que era uma epidemia apenas entre homens homossexuais. A comunidade médica sabia que poderia piorar, mas além de não terem tido "pulso firme", precisavam lidar com o preconceito. Alguns dizem que a doença apareceu no final do século XIX, outros que ela apareceu na década de 20, alguns dizem que foi fruto de experimentos, outros que foi castigo de Deus, alguns de que foi o cruzamento entre homens e macacos (este cientificamente mais provável), só se sabe que ela é original do centro-oeste africano, mas apesar de diagnosticado o vírus HIV no começo de 1980, só foi "catalogado" pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA em 1981, quando dezenas de homens gays morriam de uma fortíssima pneumonia em metrópoles como Nova Iorque. Os governos foram negligentes, e não tomaram nenhuma medida pra que a epidemia se espalhasse pelo mundo.

A comunidade gay e, porquê não, artística estavam atentas ao problema que os governantes dos EUA ignoravam. E sem espaço nos meios de comunicação em massa, eles voltaram no tempo, e usaram o que os gregos inventaram e usavam lá na antiguidade pra se comunicar com as massas: os palcos. Em 1982 já haviam alguns pequenos espetáculos que mal foram documentados, mas foi com a estréia de duas peças em Nova Iorque em 1985 que o mundo começou a questionar a política de controle à AIDS, e ver o sentimento naqueles que a maioria negligenciava. "As Is" de William Hoffman mostrava como a doença afetava as pessoas, e "The Normal Heart" de Tony Kushner veio na esteira mostrando isso tudo e alfinetando o prefeito de Nova Iorque Ed Koch, o jornal The New York Times por falhar em divulgar informações sobre a doença, o governo e todo o preconceito em torno da praga.

O que fez o discurso de "The Normal Heart" mais poderoso que o de "As Is" foi o caráter autobiográfico que Tony Kushner deu a sua obra. Ele é o personagem principal Ned Weeks, e ao viver tudo o que a peça mostra, viu nos palcos uma maneira de dar voz ao grito que ninguém queria escutar. E é exatamente esta a sensação que o público tem ao sair do teatro, de ter ouvido um merecido e racionalmente emotivo grito.

o elenco da peça
Quando fui pra Nova Iorque e escolhi os espetáculos que assistiria, usei o critério da variedade e principalmente preço, porque não ia dar pra assistir tudo o que queria ao preço de ao menos 70 dólares cada. Como não queria ficar restrito aos musicais, "The Normal Heart" me chamou a atenção por ser uma peça dramática e ainda ter o ator Jim Parsons, o Sheldon da série cômica "The Big Bang Theory" no elenco. Eu não tinha idéia!... Depois de 294 apresentações de 1985, a peça foi encenada em outras cidades e em Londres, e foi remontada em 2004, mas sempre no circuito off-Broadway (e ainda existe o off-off-Broadway!). Em 2011 ela foi remontada no circuito da Broadway pra uma curtíssima temporada, e eu dei sorte. No elenco desta montagem estavam o incrível Joe Mantello (um dos atores originais da peça dupla que também fala da crise da AIDS e originou a minissérie da HBO "Angels in America", e diretor original do musical-sensação "Wicked"), John Benjamin Hickey (o irmão da protagonista da série "The Big C", e ganhador do Tony - Oscar da Broadway - pelo papel), Ellen Barkin (que também ganhou um Tony pelo papel), Jim Parsons, Lee Pace (protagonista da finada série "Pushing Daisies") e outros.

Os nomes ao fundo do palco são dos primeiros mortos
Na peça, Ned Weeks é um escritor-ativista gay judeu-americano que foi chamado pela médica cadeirante Dra. Emma Brookner pra falar sobre uma misteriosa doença que ao longo da peça matou 45 homossexuais. Ela parece ser a única médica de Nova Iorque a atender esses homens, e a única a compreender o comportamento do vírus e sua ação endêmica. Ela é categórica ao dizer para o escritor "Você precisa falar para os gays que eles não podem continuar fazendo sexo˜, o que causa risos do protagonista e da platéia. O que ela quer é que Ned se torne um ativista deste problema, e o destino vai cercar ele deste problema. Nessa jornada pra fundar uma organização que informe a sociedade, e ajude os infectados, ele entra em atrito com seu homofóbico irmão mais velho que poderia lhe ajudar, com um ativista de caráter menos agressivo porém duvidoso que tenta lhe ajudar, e com a prefeitura de Nova Iorque que cria diversos obstáculos pra obtenção de apoio. E talvez dando origem ao título, se apaixona pela primeira vez. Talvez seu feroz coração tenha ficado normal?

A Doutora
O sucesso da peça gerou o óbvio caminho do cinema, mas obras como "Angels in America" de 1993 foram adaptados muito antes. A atriz Barbra Streisand comprou os direitos da peça logo que assistiu em 1985, mas nunca conseguiu tirar do projeto, e então 10 anos depois devolveu os direitos para Tony Kushner. Durante a remontagem da peça ano passado, ele chegou a dizer para uma revista que a culpa da peça ainda não ter virado filme era dela. Anúncio este que fez a atriz postar em seu site oficial uma carta sobre o assunto, dizendo que Kushner exigiu que o roteiro que ele havia escrito não fosse retocado, o que segundo ela nenhum estúdio aceitou, e que a declaração dele de que ela havia feito um roteiro onde a Doutora era a protagonista em detrimento dos personagens gays para que ela estrelasse e dirigisse não procedia já que ela já havia oferecido o papel para Julia Roberts. Na carta, Barbra lembra que admira profundamente o trabalho de Kushner, que não tem ressentimentos, e que ao se entristecer por não ter levado o projeto pra frente espera e deseja que o filme seja feito, pelo bem de sua mensagem.

O elenco do filme, e o diretor no centro inferior
De qualquer forma o trabalho de sondagem de Barbra deu resultados positivos, pois parte do elenco que ela havia procurado irá de fato fazer o filme. Ryan Murphy, notório criador de séries com militância gay como "Popular", "Nip/Tuck", "Glee" e "American Horror Story", e diretor de "Comer, Rezar, Amar" será o diretor, mas ainda não se sabe se o roteiro será nos termos de Kramer ou se o estúdio fará alterações. A produção fica por conta da Plan B de Brad Pitt, e no elenco principal terá Mark Ruffalo (o Hulk de "Vingadores") como Ned, Julia Roberts como a Dra. Emma Brookner (e única personagem feminina), Matt Bomer (da série "White Collar") como o namorado de Ned, Alec Baldwin como o irmão homofóbico e Jim Parsons reprisando seu papel de um inocente ativista gay do sul na peça.

Vai ser de cortar corações, mas PELAMORDEDEUS sempre usem camisinha. AIDS é uma praga mundial que QUALQUER um está passível de contrair. E já que os governos não fizeram nada lá atrás, quando só haviam dezenas de mortos, fazemos a contenção agora.